Wednesday, June 20, 2007

ARTE E PSICANALISE-MULHER MUSA




As duas temáticas principais do Surrealismo eram : o problema do feminino e da loucura , e a teoria psicanalítica . Estas temáticas encontravam-se presentes nas suas principais publicações , periódicos e obras . Os surrealistas concebiam a mulher como Mulher- musa , "dona da chave do inconsciente", via de acesso à criação artística , enigmática; o que de certa maneira alude ao enigma do feminino , estudado por Lacan posteriormente no Seminário XX de 1972
















ARTE E PSICANÁLISE-FREUD E SALVADOR DALI

"O primeiro tema que instigou Freud a se preocupar com a questão ética foi o dos sonhos. No texto "Interpretação dos sonhos" de 1900, ele se questionava sobre a influência das avaliações morais do sujeito acordado na sua produção onírica."
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"O Surrealismo surgiu propondo utopicamente a criação de uma realidade absoluta , livre de contradições .Ele era otimista , positivo , construtivo ; ansiava por uma nova forma de beleza ,de comportamento , procurava um meio de tornar o ser humano livre . Tendo interpretado a teoria freudiana ao seu modo, identificaram o inconsciente ao "maravilhoso", a via através da qual o homem alcançaria seu ideal de liberdade . Assim , sua produção artística refletia este ideal elaborando técnicas que teoricamente facilitariam o acesso do artista aos conteúdos inconscientes."

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Freud afirma que há claramente elementos do ser moral de cada sujeito em seus sonhos, que estes não são "deformados ", "camuflados" impunemente . Na sua concepção os sonhos revelam o "lado mau " do sujeito que todos tentam dissimular através da proposição filosófica de que o homem tende à evolução. "


O texto "Interpretações dos sonhos " , indica que os sonhos possuem a estrutura de uma frase , "sendo portadores de uma elaboração retórica articulada através de deslocamentos sintáticos e condensações semânticas que em algum nível enunciam a intenção do sonho" Ou seja , os sonhos significam algo para além do que anunciam num primeiro momento .



"O artista originalmente se afasta da realidade e deixa livre em sua fantasia desejos eróticos e ambições com os quais cria novas realidades admitidas pelos demais homens que admiram as valiosas imagens criadas e idolatram o artista como herói , via pela qual se compensam da insatisfação a que se submetem"S.F..




O conceito freudiano de castração vem indicar a configuração psíquica da perda do "natural", com a qual o sujeito paga sua inscrição no mundo simbólico. O phallus indica o que é visado pelo sujeito, representa aquilo que lhe falta. É a falta do pleno que faz o sujeito desejante




"A pulsão de morte subverte as coisas e se endereça ao universo da disrupção , da separação, da destruição."21



"A semelhança entre a figura de Narciso e a imagem da mão de pedra e do ovo leva-as a se fundir numa espécie de imagem dupla ."


Dali decidiu pintar o instante da transformação de Narciso em flor .Na parte esquerda do quadro , um jovem ajoelhado mira o próprio reflexo nas águas . A medida que o expectador olha para essa imagem , decodificando a complicada pose dos joelhos e dos braços , vai ficando evidente que ela tem um formato exatamente igual à imagem da parte direita , que mostra uma mão de pedra que segura um ovo de onde nasce um narciso . Uma vez percebida essa forma , tendo a vista percorrido toda a superfície da tela , torna-se difícil retornar a Narciso sem rever involuntariamente , projetada sobre seu corpo , a imagem da pedra segurando o ovo . É o seu destino . A punição ocorre enquanto o espectador vê a pintura . É o expectador o responsável pela metamorfose de Narciso



A busca de um espírito livre , contestador e do mundo maravilhoso do inconsciente tornou o Surrealismo um dos mais importantes momentos da arte modernista . Nos turbulentos anos 20, quando o industrializado Ocidente vivia as seqüelas da barbárie da Primeira Guerra Mundial , o Surrealismo surgiu conjugando amor e política, cotidiano e sonho


abram as portas ao sonho, dêem lugar ao automatismo! Vamos ver o homem tal como é, seremos homens por inteiro, "desacorrentados", libertos, ousando tomar em fim consciência de nossos desejos, e ousando realizá-los. Basta de escuridão


Maldita seja a lógica, em primeiro lugar. Aqui ela precisa ser associada, vencida, reduzida a nada. Não há mais verbos, nem sujeitos, nem complemento. Existem palavras que podem significar coisa diferente daquilo que dizem na realidade.


"O olho existe em estado selvagem. As maravilhas da terra a cem pés de altura, as maravilhas do mar a cem pés de profundidade, têm por única testemunha o olho selvagem, cuja cor remonta todo o arco-íris [...] A necessidade de fixar imagens visuais, preexistentes ou não, o ato de fixar-se nelas, exteriorizou-se desde tempos imemoriais e levou a formação de uma verdadeira linguagem que não me parece mais artificial do que a linguagem falada."BRETON


Dalí identifica seis categorias de objetos surrealistas: Objetos de funcionamento simbólico (origem automática); objetos transubstanciados (origem afetiva ); objetos a ser projetados (origem onírica); objetos embrulhados (fantasias diurnas); objetos mecânicos (fantasias experimentais); objetos moldados (origem hipnagógica) .

FONTE: A UTOPIA DOS SONHOS

Considerações sobre a Ética da Psicanálise e o Surrealismo.

Fernanda Coutinho Machado

Tuesday, June 19, 2007

ARTE E PSICANÁLISE-MERLEAU PONTY E CÉZANNE

“Ao quebrar o silêncio a linguagem realiza
o que o silêncio pretendia e não conseguiu obter.”
[Merleau-Ponty | O Visível e o Invisível.]


Merleau-Ponty nos fala de um olhar interior, um terceiro olho que vê a obra de arte, que vê o nada que ela acrescenta ao mundo para celebrar o enigma da visualidade.

Merleau-Ponty fala que é através do olhar que primeiro interrogamos as coisas, e devemos compreender o corpo, de forma geral, como um sistema voltado para a inspeção do mundo.

“O que transporto para o papel não é a coexistência das coisas percebidas, a rivalidade delas diante de meu olhar. Encontro o meio de arbitrar o seu conflito, que faz a profundidade” (Merleau-Ponty, 1991 [1960], p. 50).

Os pintores impressionistas uniram-se, primeiramente, por discordarem dos padrões vigentes nos salões de arte de Paris no século XIX; perceberam que precisavam expressar um olhar para as coisas diferente daquele estabelecido pelos moldes acadêmicos da arte.

Cézanne não se interessou pela luz que tudo banha e envolve com um movimento colorido, onde tudo tende a adquirir um só valor: árvores que se confundem com o ar, que se junta com a terra e a água em paisagens pouco nítidas.

Cézanne quis a luz que faz do objeto um sólido, e não a que o funde com a atmosfera, como os reflexos da água que tanto atraíam os impressionistas. Não por acaso preferiu as naturezas mortas, as paisagens onde aparecem construções, e a montanha Sainte-Vitoire, motivos que privilegiam as formas e o espaço.

Cézanne vai usar muitas linhas para desenhar os objetos, pois acreditava que uma só não traduz sua materialidade, assim como um círculo não é uma maçã.

Como diz Merleau-Ponty, “marcar apenas uma seria sacrificar a profundidade, isto é, a dimensão que nos dá a coisa, não estirada diante de nós, mas repleta de reservas, realidade inesgotável” (ibid., p. 117).

Por isso os problemas da pintura são concêntricos,12 e “a expressão do que existe é uma tarefa infinita” (ibid.): o espaço e as coisas se constróem juntos, e como disse o pintor Georges Braque, que soube como poucos olhar para o trabalho de Cézanne, “as pessoas parecem ignorar totalmente que o que está entre a maçã e o prato se pinta também” (Charbonnier, 2002, p. 27).



“a pintura não busca o exterior do movimento, mas suas cifras secretas” (ibid.), o que Merleau-Ponty generaliza para todo o sensível, cujo sentido a pintura deve, então, tornar visível.13

A paisagem, dizia Cézanne, se pensa em mim e sou sua consciência (...) Nada está mais distante do naturalismo que esta ciência intuitiva.

A arte não é uma imitação, nem, por outro lado, uma fabricação segundo os votos do instinto e do bom gosto. É uma operação de expressão
(...) Assim como a palavra não se assemelha ao que designa, a pintura não é uma cópia

(...) Esquecemos as aparências viscosas, equívocas e, através delas, vamos direto às coisas que apresentam.

O pintor retoma e converte justamente em objeto visível o que sem ele permaneceria encerrado na vida separada de cada consciência: a vibração das aparências que é o berço das coisas. (1984c [1948], pp. 119-120)

Luz, iluminação, sombras, reflexos, cor, todos esses objetos da pesquisa não são inteiramente seres reais: como os fantasmas, só têm existência visual. Não estão, mesmo, senão no limiar da visão profana, e comumente não são vistos.

O olhar do pintor pergunta-lhes como é que eles se arranjam para fazer que haja subitamente alguma coisa (...). (Ibid., p. 91)
Merleau-Ponty: “Não temos outra maneira de saber o que é um quadro ou coisa senão olha-los, e a significação deles só se revela se nós os olhamos de certo ponto de vista, de uma certa distância e em um certo sentido; em uma palavra, se colocamos nossa conivência com o mundo a serviço do espetáculo

"Para Cézanne, um quadro não representa nada. Ele é aquilo que percebemos, o seu sentido não é aquilo que é transformado em idéia, em fala; é aquilo que ele é antes de ser enquadrado em qualquer tema ou teoria. É algo que toca num determinado ponto singular da sensibilidade do observador. Só se tem acesso a arte a partir da própria obra, através de um contato direto com ela, um processo ligado à experiência e ao pensamento"Almandrade
artista plástico, poeta e arquiteto, reside em Salvador-BA

Saturday, June 16, 2007

PAISAGENS URBANAS-JANELAS,MUROS,ESTÁTUAS,TEMPLO,RUINAS,DISTANCIA.CALÇADAS,ACELERAÇÃO,TORRE,GENTE,MINARETE,O SUBLIME.,PASSANTES.

URBANO CANIBAL

(Fernanda Abreu / Lenine)

Sou urbano canibal
feito de carne e aço
semente e bagaço
plantado no asfalto
no meio de tudo

<

Sou urbano canibal
pele couro de cobra
olhos duros de vidro
corpo todo partido
tudo breu, tudo escuro
Sou urbano canibal
sou do bem, sou do mal
sou excesso total
selvagem racional
eu tô pixado no muro



Sou Peri da Periferia
Sou Ceci do Borel
Sou da Selva de Pedra
Sou do Arranha-Céu
Sou Babel



Sou urbano canibal
Eu devoro, eu mastigo
esse corpo cidade
de vaga identidade
me tornando o que sou
Sou urbano canibal



sou o samba no morro
sou a bala perdida
a voz da torcida
a trave e o gol


Sou urbano canibal
esse é meu alimento
becos, ruas, esquinas
carros, pontes, vitrines
sou geléia geral









Poesia não é uma matéria estática,mas uma corrente fluida que muitas vezes escapa das mãos do próprio criador.Sua matéria prima está composta de elementos que são e ao mesmo tempo não são;de coisas existentes e inexistentes .
Pablo Neruda

Quais são as tuas palavras essenciais? As que restam depois de toda a tua agitação e projectos e realizações. As que esperam que tudo em si se cale para elas se ouvirem. As que talvez ignores por nunca as teres pensado. As que podem sobreviver quando o grande silêncio se avizinha"
VIRGÍLIO ANTÓNIO FERREIRA


Imagens:cartier Bresson

PAISAGENS URBANAS-ESTEVÃO SILVA DA CONCEIÇÃO-'EU NAO SEI QUE É ESSE GAUDI"

DE ONDE VEM A REFERENCIA ESTÉTICA DESSE HOMEM SIMPLES?



"Estevão Silva da Conceição, é baiano de Santo Estevão, grotão da Bahia, não chegou a concluir o primeiro grau e veio para São Paulo procurando uma melhor condição de vida ,trabalhou como vigia noturno de uma obra,montador de estruturas de ferro e na construção civil durante dez anos,atualmente é porteiro em um prédio de classe alta de São Paulo.
Em 1986 Estevão começou a erguer sua casa no meio da favela de Paraisópolis, uma das mais populosas da capital paulistana.

A obra, com direito a jardim no estilo Parque Güell, chamou a atenção dos organizadores do aniversário de 150 anos de Gaudi.

Em 2002, o baiano embarcou para a Espanha e participou dos festejos e ainda foi estrela de um documentário, dirigido pelo brasileiro Sergio Oksman, exibido pela TV Odisséia, canal a cabo espanhol.



Estevão não gosta quando dizem que sua casa é feita de lixo
"Fico bravo quando as pessoas dizem que fiz minha casa com lixo. Eu comprei muita coisa, a maioria. Cimento não se acha na rua, né?"



"Comecei plantando uma pequena roseira, e como cresceu muito, fui construindo uma armação de ferro e para guiá-la, que fui forrando com cimento, terra e pedras e mosaicos".