Sunday, August 07, 2011

O singular Eric Satie

        O singular Eric Satie 
       


Para entrar no clima da postagem de hoje, clique  no video e  relaxe..



Eric foi um  homem de baixa estatura, cujo guarda roupa era composto de 13 ternos de veludo cinza, todos  do mesmo modelo.
Tinha obsessão por comida branca e  tinha fases  que só se alimentava delas : arroz, clara de ovo, coco, peixe, nabo, queijo,entre outras.
Usava um chapéu coco ,cartolas e possuía coleção de cachecóis e guarda-chuvas .
Era extravagante,original,alternativo.
Amava  estar entre os mambembes,trapezistas,clowns ,poetas.
Era um sujeito estranho com manias estranhas,genial,sintético,irreverente,brincalhão,irônico,sarcástico... 


             Gymnopédie-Música para a alma respirar

Quem ouve a primeira vez  Gymnopédie de Eric Satie  , que originalmente foi composta para piano, jamais poderá imaginar que alguém que compôs uma  musica tão suave,delicada,doce  e introspectiva, poderia ter a alma tão inquieta.
A over dose de  Gymnopédie nº I que há na caixinha de música logo no inico da postagem tem uma razão muito egoista: sou apaixonada por essa música e quero falar um pouco sobre ela e seu compositor.



Eric Satie compos 3 Gymnopédies e são músicas atemporais ,apesar de terem sidos publicadas em 1888.
Requintadas, apesar de ter uma simplicidade impressionante.  "A simplicidade é  o ultimo grau de sofisticação ", já dizia o velho Leonardo  da Vinci.O simples  é a linha  que faz a diferença entre o  gênio e as  pessoas comuns .
Essas tres musicas são carregadas de uma nostalgia que não tem explicação ,flui , desliza de modo  que me hipnotiza ,frui como  um  voo.
Outonais, as notas secas  flutuam para dentro de nossos ouvidos .
Tocadas  sem pressa uma a uma , dolorosamente ,  como se alguém estivesse somente tentando relembrar  uma  antiga melodia  perdida no tempo , aos poucos vão preeenchendo a imaginação (pelo menos a minha) .
Para mim, são músicas oníricas.
São paisagens musicais.
Gymnopédie nº 1 em especial lava a minha alma e frequentemente fico comovida ao ouvi-la.




Ouvi a Gymnopédie nº I ,minha preferida como podem notar, a primeira vez quando tinha uns quatro ou cinco anos  de idade em uma rádio que tinha uma programação de musica clássica e instrumental em Brasília.
Meus pais apesar de não terem oportunidade de estudos, tinham gosto estetico requitado,e graças aos ceus tive a oportunidade  de ouvir o que há de melhor em materia de musica de todos os generos.

Acontece que essa  melodia me infeitiçou, ficou na minha cabeça por anos  sem que eu descobrisse o compositor,qual era o nome da música .

Lembro-me que às vezes ela servia de música incidental para algum programa de tv, mas eu não conseguia descobrir de quem era a melodia...velhos  tempos   em que não existia internet, tudo era bem mais dificil.

Passaram-se os anos.
Fui apresentada  a grandes compositores clássicos, meu pai me deu meu primeiro LP de musica classic a eu  fiquei  torcendo pra que a musica estivesse entre as 12 e nada.
Eu e minha mae começamos uma coleção de discos (LP) de musica classica,entre eles descobri  Ravel  e achei  que tinha algo na musica dele que me lembrava a tal melodia, infelizmente,  nada de achá-la entre suas composições.

Encontrei com Debussy, que tinha em suas composições  uma vibração que  me conectava a linha melodica da musica misteriosa, mas não estava  entre as composições de Debussy  também .

 Então, eu, depois de muitos anos,estudante de artes visuais e curiosa por natureza, pesquisando estetica e compositores do final do sec XIX e início de sec XX fatalmente encontrei a música que tanto procurava. Ela:a Gymnopédie nº 1  de Erick Satie .


Éric Alfred Leslie Satie, ou simplesmente Eric Satie, foi um compositor e pianista francês que nasceu em Honfleur, 17 de Maio de 1866 em conseqüência da vida desregrada que teve, morreu aos 59 anos de cirrose hepática  em Paris no dia 1 de Julho de 1925.

Perdeu a mãe bem cedo, foi morar com seus avôs paternos e quando esses morreram,foi morar com seu pai e madrasta e depois  passou a morar com um tio boêmio.

Foi matriculado em uma escola de música, mas logo desistiu, pois irreverente que era não se adequou aos padrões exigidos pelos professores e era chamado de displicente, sem noção das coisas,descuidado, desatento.

Essa fuga da escola de música fez com que Eric  mais tarde fosse considerado pelso criticos um pianista medíocre se comparado com os pianistas contemporâneos dele.

 O gosto de seus  ouvintes contemporâneos estava ligado ainda  ao virtuosismo, habilidade e técnica ,como são  exigidas do instrumentista na execução das peças do período da Música Romântica, por exemplo.
Por  não se identificar com as caracteristicas românticas dos grandes mestres como  Beethoven ou dos que vieram depois como Chopin, Tchaikovsky, Felix Mendelssohn, Liszt, Grieg e Brahms, acredito que tenha rejeitado, ou se desinteressado por tantas regras  rígidas de postura ,estudos e treinos das  aulas de piano.(opinião pessoal).
                                            Debbusy e Eric Satie

Eric Satie foi amigo e contemporâneo de Ravel, Debussy e  esses se influenciaram esteticamente pela alma libertaria do amigo bem humorado.
Isso explica a  ligação  intuitiva que  eu  fazia com da musica deles com a  que eu procurava  desde criança.
                                       Eric Satie por Jean Cocteau  

Com Jean Cocteau, a quem ele conheceu em 1915,  Satie começou a trabalhar na música incidental para uma produção de Shakespeare na peça Sonho de Uma Noite de Verão 

A partir de 1916, ele e Cocteau trabalharam no ballet Parade, que foi estreada em 1917 por Sergei Diaghilev 's Ballets Russes, com cenários e figurinos de Pablo Picasso, e coreografia de Massine Léonide.

Através de Pablo Picasso Satie também conheceu outros cubistas, como Georges Braque, com quem iria trabalhar em outros projetos.

                                  Gosto dessa carinha alegre que ele tinha 


Eric Satie não se consderava um musico,  preferia ser chamado de "phonometrician", (alguém que mede sons).
Lançou um novo  olhar sobre a musica e sua função,introduziu sons inusitados  utilizando objetos do cotidiano em suas partituras.

Criou o que ele chamava de musique d'ameublement (musica de mobília). Um título bem humorado para definir o que viria a ser a musica ambiente hoje.

Até então, onde havia  exibição musical,ninguém conversava ou se movimentava, e ele fez musica para ser usada como parte do ambiente,como um objeto que complementa a decoração de uma reuniao, como as mobílias. 
Dizem que  nos primeiros experimentos da musica de mobília ele incentivava os convidados conversarem e e se locomoverem naturalmente pois  , ao começar a musica, todos paravam para prestar atenção. Para nós que estamos acostumados com música ambiente  parece engraçado,mas isso foi uma revolução  na época.
Desestruturou hábitos,função, cultura.
 Ele experimentou  a musica  e suas possibilidades , foi  depreciado pelos  criticos  "sérios" mas foi reverenciado por jovens vanguarditas, e Cocteau estava entre eles. 


“Satie é relevante? Para interessar-se por ele, é preciso ser desinteressado ,para começar a aceitar que um som é um som e um homem é um homem, desistir de ilusões sobre idéias de ordem, expressões de sentimento e todas as nossas outras armadilhas estéticas herdadas. Não é uma questão de relevância. Satie é indispensável

 (John Cage)

Para terminar,  se voce gosta de cantar como eu,  Clique Aqui, espere carregar e cante comigo esse poeminha abaixo.
    


Thursday, August 04, 2011

Querido Burle Marx

Além de paisagista, Burle Marx era musico pintor, botânico auto-didata ,desenhava jóias, gostava de cantar e receber pessoas em casa, , fazia tapeçaria. Faria 102 anos hoje, e nos deixou  como herança um patrimônio artístico/biológico/ecológico/estético/histórico  que não tem preço.

Há tanta coisa a pensar a seu respeito...

Poderia falar sobre suas pinturas, (que por sinal, sou apaixonada por elas),


Poderia falar sobre um projeto dele que o mundo todo conhece que são as ondas do calçadão de Copacabana,Linhas curvas insinuando  o movimento do  mar, pedras portuguesas nos lembrando  parte de nossas origens (acredito que seja uma praia que o mundo todo tem vontade de ir pelo menos um dia na vida.)

 Poderia falar de outros projetos que estou começando a me familiarizar como os jardins e terraços do Ministério da Educação e Saúde, do aeroporto Santos Dumont e da Associação Brasileira de Imprensa; o Largo da Carioca; a orla do Leme; os jardins suspensos do Outeiro da Glória e o Aterro do Flamengo que era uma de suas grandes paixões em termo de projetos. 
Sem falar também nos projetos em outros localidades do Brasil como por exemplo  :
Em Fortaleza 

  No Conjunto arquitetônico da Pampulha em Belo Horizonte 

 Ibirapuera,, na embaixada do Brasil nos EUA, tantas obras lindas...

Tantos projetos no Brasil e no mundo...

Poderia  falar da minha memória mais remota e afetiva dos jardins  de Burle Marx: Brasília. 
Toda  a minha existência, exceto os noves meses depois do meu  nascimento ,que vivi em Minas gerais ,e os 6 meses que moro  aqui no  Rio de Janeiro, passei em Brasília Quem passou toda sua infância,adolescência,juventude e  boa parte de sua vida adulta em Brasília tem um olhar familiar  sobre a arte moderna.Nossos olhos estão educados para as retas , curvas,para o concreto , para espaços livres e vazados e também para o verde,muito verde. Sim, passei a vida toda em um museu de arte moderna ao ar livre.
 Esse verde que nos é apresentado em Brasília é culpa do Burle Marx.

Falar sobre Brasília me emociona por infinitos motivos, nasci pouco depois que ela foi inaugurada, meu pai foi trabalhador (candango de fato) na construção da cidade, me tornei arte educadora nessa cidade, tive meus filhos, enterrei minha mãe, deixei meus parentes e amigos por la..

De todas as imagens que me encantam em Brasília, os jardins projetados por Burle Marx são com certeza uma das minhas grandes paixões visuais.
 Com sensibilidade extrema ele usava das preciosidades criadas por Deus, nossas riquezas naturais, para compor de maneira única seus quadros, seus tapetes verdes e vivos.
 A água como espelho do céu e de suas obras que interagem com arquitetura moderna e é uma constante em seus projetos, metáfora da criatura criativa que se espelha no Criador e torna-se divino, pois não há como não pensar no toque de algo superior, em coisas além do terreno, ao observar um jardim projetado com tanta beleza. 
.

Foi Burle Marx   quem trouxe a flora brasileira mais próximo de nós,  ate então os  jardins  eram projetados com inspiração européia., que eram de manutenção dispendiosa , devido aos cuidados extras por fatores climaticos, pestes,fungos e também nos distanciava de nossa origem tupiniquim.

Burle Marx, trouxe o rupestre, o natural, nossa identidade vegetal para locais requintados, sofisticados, vitrines para o mundo, como os palácios de Brasília por exemplo. Uma riqueza sem tamanho.

 Hoje, tenho a oportunidade de morar do lado extremamente ecológico do Rio de Janeiro, já ouvi de varios  cariocas  talvez desinformados sobre a propria cidade,  quem sabe  preconceituosos ou  bairristas , dizer que esse lado de cá do Rio, não  é Rio de Janeiro, talvez porque não tenha a ferveção do Rio antigo, nem o burburinho das favelas, nem a agitação cultural da zona sul, nada do que realmente costumamos ver pela TV.

Mas, eu a cada dia afirmo: estão completamente enganados, aqui é   a face verde doRio de Janeiro os cariocas precisam explorar mais esse lado de sua cidade e deixar o lhar descansar sobre ele...Burle Marx  que amava o Brasil , sobretudo o Rio de Janeiro como um todo, entendia  , cuidou e pertenceu  também  a esse pedaç de chão.
Eu também começo  a pertencer a esse pedaço de Brasil .

O Recreio dos Bandeirantes e Barra da Tijuca possuem uma extensa rede de reservas biológicas importantíssimas para a saúde ambiental do Rio de Janeiro, há 12 km de casa temos o bosque da barra, reserva de marapendi.,há 1 km o parque Chico Mendes, a menos de 8 km, reserva da praiinha, reserva de grumari,horto das palmeiras.. Quando penso nesses locais  me faz sentir presenteada por Deus todo dia . Burle Marx sabia disso.

Candanga mineira  que sou, me identifico  muito com  a natureza , com a calmaria,com locias  menso tumultuados que  dão espaço para pensar.
As linhas retas e largas  da Avenida das Américas, os prédios baixos  do Recreio que  lembram   os edifícios das nossas “asas” em Brasília,a Barra lembra  muito o sudoeste, águas claras, só que na beira do mar.

Fico encantada  ainda  ao olhar pela janela e ver a linha do mar.
A silueta da  Serra da Grota funda no meu horizonte  é tão estranha... é ai que  caio na realidade e  a paisagem grita:Você saiu de  Brasília, não esta mais no Planalto Central.

Brasília me pertence como eu a ela,e como nada no mundo é por acaso , há  poucos kilometros de casa temos uma  joia de Burle Marx.
Quero deixar registrado meu amor pelas obras de arte vivas: os jardins projetados por Burle Marx.
Mas quero mais que tudo louvar o humano Burle Marx .

Burle Marx se mudou em 1972 para um terreno adquirido por ele em 1949, na época se chamava sítio Antônio da Bica, localizado em Barra de Guaratiba, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Foi nesse local que o artista passou a se dedicar a pintura e a colecionar obras de arte. Ao longo de mais de 20 anos, cultivou e colecionou 3,5 mil espécies de plantas do mundo inteiro.

Alguém tão sensível assim não se prende ao material e a propriedade foi doada em 1985 ao governo federal pelo próprio Burle Marx, que sonhava criar ali uma escola para jardineiros e botânicos e abrir o sítio à visitação pública. Acho isso lindo!


Ele morreu em 1994, quando tinha 82 anos de idade, e seu grande sonho vira realidade. O sítio foi rebatizado com o seu nome e atualmente recebe visitantes do Brasil e de diversos outros países interessados em conhecer melhor a obra e paixões de Burle Marx.

O sítio Burle Marx está impregnado da alma criadora do artista .Em todos os cantos, em todas as plantas em todos os jardins. Com sua generosidade e amor a natureza a arte a ao ser humano livrou do extermínio varias espécies da botânica brasileira. 

Somos muito as coisas que   nos cerca, o meio  no qual vivemos, as experiências que passamos ou provocamos 
Quem sabe se nos aproximarmos mais das  coisas vivas, da arte.
Quem sabe se parassemos alguns minutos do dia para  cuidar de uma planta, alimentar um animal, brincar com uma criança, ouvir o que o idoso tem a dizer, observar o ciclo  da vida , nos tornariamos  mais humanos e menos violentos e amargurados..
Se isso não é estar perto de Deus , não sei o que pode ser...
Viva Burle Marx, eternizado em paisagens, viveu de forma que  antecipou  para nós  fragmentos de imagens dos jardins do Céu..