Monday, October 29, 2012

Senta que la vem a história : Desenredo


“O verdadeiro pode às vezes não ser verossímil.”
                                          (BOILEAU, A arte poética)


Antes de tudo, para fazer uma  trilha sonora, clique no video, e enquanto  estiver ouvindo essa pérola da musica popular brasileira, leia a historia que eu tenho para te contar 

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Essa é  uma historia  delicada e de rara beleza .
Uma história de amor incondicional.
Do amor que todo mundo gostaria  de ter para si.
O amor que tudo pode, tudo suporta, tudo crê , compreende, aceita, redime e restaura o outro e a si mesmo.
Na verdade é um  conto e o protagonista e herói dessa historia se chama  Jó Joaquim.
O nome Jó nao foi escolhido por acaso, pois a paciência foi uma das "ferramentas desenredantes" do nosso conto.
Jó Joaquim (...) "era quieto, respeitado, bom, como o cheiro de cerveja."
Acontece que, como o ser humano é cheio de falhas e fraquezas, ele caiu de amores por uma mulher casada e  esta era notoriamente infiel.
 Ela era "bonita, olhos de viva mosca, morena mel e pão".
O nome da mulher dessa historia  é trocado varias vezes durante o conto com a mesma rapidez que ela trocava o jeito de ser.
Durante  esse relacionamento  ocorre um trágico acontecimento que  muda de vez a historia dos dois amantes: o marido dela morre e Jó , que a amava muito,casa-se com ela , a abriga e ampara mesmo sabendo  da reputação péssima que tinha ...
Ai que começa a verdadeira historia de amor de Jó e a mulher que troca de nome...
Jó , tendo a mulher tão má afamada,numa espécie de peregrinação ,por onde passava falava a todos sobre as virtudes de sua amada esposa .
Com carinho redesenha a fama da mulher .
Por amor, ele passou por cima dos erros dela e começou num processo de "descalunização" de sua moral.
Por onde passava  dizia a todos com muita  certeza  que ela jamais teve amantes, que  sua esposa era bondosa,correta,  pura e fiel .
Jó  afirmava  com tanta verossimilidade  sobre essa mulher que ele  desenhava para os outros que  ao contar  de suas qualidades. as  que ele mesmo havia inventado,  começou a acreditar em sua própria criação.
Com o tempo , o fato dele mesmo acreditar no que falava,deu credibilidade ao seu sonho e tudo começou a fazer sentido para ele e para todos que eventualmente  falavam mal dela , a hostilizava.
O povo do lugarejo , aquele tipo que adora um assunto da vida dos outros para falar ,começou a diminuir as fofocas e intrigas  sobre a mulher,, afinal ,  a pessoa que  deveria ser mais afetado por seu comportamento  só tinha elogios pra fazer a ela... Falar o que? fazer o que?
Com o passar do tempo, as pessoas foram  digerindo  as novas informações que o marido dava sobre a esposa e as coisas foram mudando.
A mulher que  trocava nomes foi aos poucos adquirindo respeito dos que a rodeava  e pode observar que sua imagem,   que sua pessoa agora era outra.
Agora  não era somente os outros  a viam diferente,sua fama havia  mudado.
As pessoas conseguiam ver suas qualidades , as  inventadas e que eram tão  afamadas pelo marido e ela, ficou tocada por tão grande amor, que, para fazer jus à fama da versão que o marido havia inventado,  se transformou verdadeiramente na mulher idealizada por Jó.
Jó Joaquim com amor  desmedido fez o (Des) enredo da historia de sua mulher, uma pessoa  com a vida cheia de enganos e  assim, criou um novo enredo  para os dois e com final feliz...
 "DESENREDO" um conto maravilhoso integrante de Tutaméia-Terceiras estórias de Guimarães Rosa.
Isso não é lindo? esse conto  inspirou a maravilhosa música de Dori Caymmi e Paulo Cesar Pinheiro  com o mesmo nome :Desenredo .
Guimarães bate bem fundo no meu coração, pois nasci lá pelas bandas das veredas dos "grandes sertões" que ele tanto fala... Guimarães me lembra minhas origens, meus pais, parte de minha historia.


Wednesday, October 24, 2012

Moda e Arte .

O desenho de Leonardo da Vinci, de 1497 e a bolsa produzida em 2012

Sabiam que uma grife italiana produziu uma bolsa criada por Leonardo da Vinci?

Desenho  acima da bolsa de mão é datado de 1497 e está exposto em Vinci, na Itália
 O pesquisador Carlo Pedretti,em 1978, especialista  nas obras de Leonardo da Vinci, encontrou, entre milhares de trabalhos em  desenhos e rascunhos do artista, alguns croquis de acessórios de moda.
Desenho do  final do século 15, mostra uma bolsa cheia de arabescos e recortes, arrematados por um delicado fecho  com linhas  rococó.
O design  requintado atraiu  a atenção da grife de acessórios Gherardini,que foi  fundada por uma família que diz ter o sangue de La Gioconda  correndo nas veias.
Com sangue da Monalisa ou não,  diante de desenho com linhas tão interessantes  e a  Gherardini decidou  dar forma à bolsa seguindo o padrão e as ideias de Leonardo da Vinci.
Veja aqui como foi feita a  montagem do acessorio
.http://www.youtube.com/watch?v=dpRmmJbyfCk&feature=player_embedded
A peça recebeu o nome  de “Pretiosa di Leonardo” (“Preciosa de Leonardo”), a bolsa de couro foi exposta no incio do mes de outubro desse ano  na feira de tendências Pitti W, em Florença.
Apos essa primeira  aparição  , a bolsa  feita a partir do desenho de Leonardo Da Vince  provavelmente ganhará uma exposição permanente , ao lado de seu croqui, no museu Ideale, localizado  na cidade de Vinci, na Itália.
 Que mulher não gostaria de uma bolsa cheia de estilo dessas?

Tuesday, October 23, 2012

Alfonsina Y El Mar




"Pela branda areia que lambe o mar sua pequena pegada não volta mais
Um caminho sozinho de pena e silêncio
chegou até a água profunda
Um caminho sozinho de penas mudas chegou até a espuma
Sabe Deus que angústia te acompanhou que dores antigas calou tua voz
Para recostar-se embalada no canto as conchas marinhas
A canção que canta no fundo escuro do mar
A concha
Te vais Alfonsina com tua solidão.Que poemas novos fostes buscar?Uma voz antiga de vento e sal te elogia a alma e a está levando.E te vás até lá como em sonhos
Dormida, Alfonsina vestida de mar
Cinco sereias te levaram por caminhos de algas e coral e fosforescentes cavalos marinhos à vontade.Uma ronda a teu lado
E os habitantes da àgua vão jogar logo ao seu lado.
Baixe a lâmpada um pouco mais deixe que durma Enfermeira, em paz ...
E se ele chama não diga que estou diga-lhe que Alfonsina não volta
E se ele chama não o diga que estou de que estou indo.
...
Dormida, Alfonsina
Vestida de mar"
 Imagem:  Artwork by Cristina Bazolli

Esse texto é uma  tradução do poema da musica Alfonsina Y El Mar que foi inspirada no proprio poema postumo dela chamado Vou a Dormir...Foi gravada a promeira vez no album de Mercedes Sosa :Mulheres Argentinas em  1969.
A mulher que Mercedes Sosa se refere  na musica composta por Ariel Ramirez e Feliz Luna é Alfonsina Storni ,poetisa.Chamaram-na Alfonsina, e dizem que o nome significa :"disposta a tudo".Nasceu na Suiça mas em 1896 imigrou com os seus pais para a província de San Juan na Argentina.
Quando Alfonsina tinha 12 anos,  escreveu seu primeiro poema centrado na morte e o deixa sob a almofada de sua mãe que ficou profundamente  contrariada   com o tema, dizendo que a "vida é muito bela para aquilo".
O poemas de Alfonsina Storni são cortantes ,certeiros e determinados, como ela era .
Pode -se dizer que ela comparada a sua época, poderria  ser considerada  uma feminista pois estava a frente de seu tempo e já fazia   indagações sobre a condição da mulher na sociedade.
Teve aos  20 anos tem seu único filho, Alejandro,  companheiro inseparável. Quando lhe  perguntavam a  esse respeito ela dizia: "Eu tenho um filho fruto do amor, do amor sem lei."
Em 1935 descobriu que era portadora de um câncer no seio e para complicar seu estado de espirito  o suicídio do amigo Horacio Quiroga, em 1937, deixa-a profundamente abalada.
Em 1938, três dias antes de se suicidar,saltando  no mar no cais de Mar Del plata ela  envia de um hotel desta mesma cidade , para um jornal, o soneto, Vou a Dormir.
Vou a Dormir
"Dentes de flores, touca de sereno,
Mãos de ervas, tu, ama-de-leite fina,
Deixa-me prontos os lençóis terrosos
E o edredom de musgos escardeados.
Vou dormir, ama-de-leite minha, deita-me.
Põe-me uma lâmpada à cabeceira;
Uma constelação; a que te agrade;
Todas são boas: a abaixa um pouquinho
Deixa-me sozinha: ouves romper os brotos…
Te embala um pé celeste desde acima
E um pássaro te traça uns compassos
Para que esqueças… obrigado. Ah, um encargo:
Se ele chama novamente por telefone
Diz-lhe que não insista, que saí…"


Linda,melancolica e mágica musica  !

Ouça a musica logo abaixo a tradução do poema da musica Alfonsina Y El Mar que foi inspirada no proprio poema postumo acima citado .Clica ai para ouvir -------->>>>..http://www.youtube.com/watch?v=eU1Hpc_iqL8&feature=related

Tuesday, October 09, 2012

Che




Hoje é dia de lembrar a morte do Che Guevara.
Gosto dessa imagem , é incomum, mas é simbolica para mim.
O Che pai, despido de sua farda, boina.O Che exposto a todas as fraquezas ,duvidas e dores que todos os pais sofrem...Aposto que ele desejou o melhor pra sua bebe, Célia.Mas desejar não é tudo! Tomara que ela tenha aprendido muito do melhor que seu pai foi.
Creio que a maior revolução é feita
dentro de nossas casas,quando nossos filhos,nossas crianças nos observam,copiam o nosso melhor.Se faz quando amamos ,falamos não, corrigimos, educamos, os ensinamos a respeitar o proximo, a não fazer mal a outros, a serem gentis, bondosos,justos, altruísta. Ser sempre, sem esperar retorno, pois o mundo quase sempre nao retorna.Não esperar nada de volta,para não se tornarem seres amargos. Ensinar a sorrir, mesmo quando é tempo de dor. Que de nossas casas saiam pessoas melhores. Aqui vai uma frase da carta de despedida de Che a seus filhos: "Acima de tudo procurem sentir no mais profundo de vocês qualquer injustiça cometida contra qualquer pessoa em qualquer parte do mundo. É a mais bela qualidade de um revolucionário.Fonte: Carta a María Rosario Guevara, de 20 de fevereiro de 1964 .Não nos esqueçamos: "Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás." RIP Che! "

Friday, October 05, 2012

A Poesia Imagética de Remédios Varo

Por Eliana Maria L.S Andrade


Remédios Varo é para mim  uma  doce e delicada fada das imagens.
Ela morreu dia 8 de outubro de 1963, 20 dias antes do dia de meu  nascimento e tenho uma afinidade imensa com suas obras.
Com apenas tintas sobre um suporte ,muito talento e sensibilidade, suas obras convidam o imaginário do observador a fazer viagens cósmicas, experimentar o mundo mágico da alquimia, do onírico, da matemática, dos contos de fadas.
Suas obras penetram no imaginário infantil muitas vezes adormecido em nós , adultos.


[...] Sob sua forma simples, natural, primitiva, longe de qualquer ambição estética, de qualquer metafísica, poesia é uma alegria do sopro, a evidente felicidade de respirar. O sopro poético, antes de ser uma metáfora, é uma realidade que poderíamos encontrar na vida do poema [...] BACHELARD, 2001, P.245

A obra de Remédios Varo é permeada desse sopro poético de que fala Bachelard no texto acima .
Seus trabalhos são poesia soprada de modo  visceral, ambientada em cenários de terras fantásticas, impregnada das mais remotas lembranças de um mundo jamais visto ou vivido, exceto nos devaneios infantis onde todos os seres, formas e situações são possíveis.
Sua paixão pela pintura Flamenca em especial por Bosch, e também por El Greco e Goya a influenciaram profundamente. As referências estéticas desses mestres da pintura aliadas a suas viagens, aos anos em terras de diferentes culturas, seus estudos místicos e conhecimentos na área da ciência, matemática lhe concederam uma estranha e misteriosa harmonia de elementos fantásticos, surreais, únicos, manipulados por ela como se fora uma alquimista das imagens oníricas.

Cada uma de suas obras se apresenta como um momento de decantação das imagens do mundo real, com suas mazelas, dores, medos, alegrias, carências, frustrações, anseios, e que delicadamente vão passando diante dos olhos.
Suas imagens vão separando o que é palpável, humano, degradável, e lentamente liquefazendo-se em vapores coloridos, como que insinuando uma visagem. Assim como se mostram os sonhos.

Umas das obras mais delicadas e femininas que Remedios Varo produziu e que tive a honra de vê-la de perto, é a Papilla Estelar-Celestial Pabulum. Uma obra de estrutura formal e figurativa. Como se trata de uma obra de uma pintora surrealista, as figuras são representacionais de conteúdo simbólico e metafórico.

Vamos Analisar a Obra? ( deixo bem claro que a analise aqui é de total responsabilidade minha.São minhas  impressões pessoais sobre a obra )

Informações técnicas sobre a obra

Artista: Remédios Varo
Título da obra: Papilla Estelar
Data da obra: 1958
Categoria: Pintura
Técnica: Óil on board
Dimensão: 36x24 in.
91x61 cm
Pais: Espanha/México
Escola: Surrealismo



Apesar de ter sido produzida no inicio da segunda metade do sec.XX, a obra apresenta elementos estéticos Renascentistas em especial, a marca indelével da influência de Hieronymus Bosch a quem muito a influenciou.
Portanto, em seus trabalhos Varo utiliza-se de padrões de perspectivas muito semelhantes as do final do século XV. Recorre a figuras de simbologia complexa, caricaturadas, mas com uma delicadeza refinada, feminina, alegórico e transcendente.
Fiquei completamente encantada quando tive a oportunidade de ver essa obra de perto.Os verdes, a textura. a força mágica que dela emanava.Fui até a exposição ávida para ver Frida Khalo mas foi Remedios Varo quem roubou meu olhar com essa obra.
A imagem apresenta uma peça arquitetônica, centralizada, facetada, com uma abertura frontal cuja estrutura sugere ser a ponta de uma torre muito alta, pois suscita a idéia de estar sustentada no ar, pois está envolvida por brumas e nuvens.
 O fundo possui uma magnífica textura e uma variação de tons de verdes, sóbrios.
Sobriedade é uma das características marcantes na paleta de cores de Remedios Varo.
Talvez essa estrutura seja de madeira ou de um metal acobreado cujo interior e prateado e polido. Seu formato hora lembra um pequeno palanque ou coreto, e por vezes provoca a lembrança de um oratório ou uma gaiola. O assoalho da estrutura e facetado e possui uma via de acesso por meio de três degraus.
Na ponta dessa estrutura há uma espécie de funil ou algo que suga a massa de cores mais claras do fundo da imagem. Esse funil ou algum utensílio semelhante de forma cônica de metal ou outra matéria similar está acoplado a uma cânula se entende para o interior da estrutura e faz duas curvas quebradas até se encontrar com uma maquina de moer que esta fixada a uma mesa.

A mesa coberta com um tecido possui um prato logo abaixo da maquina e ao lado uma mulher. A mulher, sentada em um tamborete ou banco, sobriamente vestida de marrom, tem o rosto e cabelos de um amarelo intenso, quase dourado, e manipula a manivela da maquina de moer que esta  fixada à mesa. Com a mão  direita segura uma colher que utiliza para  levar alimento estelar até  a boca da lua.

A lua é crescente e isso  me leva a imaginar a lua quando  cheia, gordinha,  alimentada de papa de estrelas. Essa lua está disposta a frente da mulher e está aprisionada em uma delicada gaiola. Uma imagem mítica e metafórica. Pela massa que representa as estrelas  acima da estrutura arquitetônica suponho  que se trata  de uma citação da Via-Lactea.
Assim como praticamente todas as obras de Remedios Varo, Papilla Estelar tem estrutura narrativa. È suave e feminina e feminista. Combina o mundo real com o fantástico. Faz uma ponte entre arte e a ciência. Uma mulher alimentando a lua com pó de estrelas. A via láctea servindo de alimento para uma lua crescente.
Remedios Varo em sua poética revela seu mundo interior de fantasias e utiliza-se de suas próprias experiências de vida, suas paixões, frustrações para compor a narração. A obra parece falar de fertilidade, do berço das estrelas e do mundo humano que se regenera a todo o momento tendo a mulher como fonte procriadora que alimenta e mantém a possibilidade da existência da raça humana. A lua crescente simboliza as energias femininas.

Ao alimentar a lua de pó de luz estelar o rosto da figura  feminina, que possuiu um olhar perdido e resignado, é totalmente iluminado com uma luz quente semelhante à luz solar paradoxalmente ao brilho frio da lua. Ora, sendo a lua um mero refletor e redirecionador da luz solar para a Terra, os filhos lunares seriam uma forma indireta dela receber essa luz. Seu olhar nao direcionado é  um elemento que me  causa muita estranheza , o fato do seu  olhar  ser vago, perdido. Ela não fita o olho de quem ela alimenta . Remédios varo jamais pode ter filhos e falando sobre essa obra e sua intenção ao pintá-la, e a respeito do tema, ela disse: "Supe entonces que estaba hablando de mí y de mi cocina, y de mis hijos lunares y de las estrellas que yo trituro"

Quem seriam esses filhos lunares alimentados de papa de estrelas trituradas por ela em sua cozinha? Quem se alimentaria da luminosidade sugada das estrelas? 
Seria a cozinha seu ateliê de pintura ou a sua própria existência? Ela seria a metáfora da Terra? Seriamos nós a lua? observadores alimentados pela sua obra, passivos, aprisionados pelo devaneio da artista, ávidos para sermos alimentados por esse pó de estrelas triturados por ela?

Ao nos alimentar por essa luz vinda da imagem produzida, receberia ela a luz original através do reflexo da luz em nós?Poderia a luz tratar-se da fruição de quem observa seu trabalho? . Sua frase sobre a própria obra deixa enumeras interrogações ao invés de explicá-la.
Papilla Estelar remete-me aos devaneios poéticos do filosofo Gastón Barchlard (2001) ao dizer que [...] o sonho é a cosmologia de uma noite [...], o filosofo discorre sobre as nebulosas e diz que a via Láctea quando citada em uma obra poética toma para si tanto valor que acaba por declarar toda intenção do autor.
[...] a nebulosa da Via - Láctea qual uma vista atenta deveria atribuir exatamente a mesma fixidez das estrelas e na contemplação de uma noite, o tema de incessantes deformações. Sua imagem é contaminada simultaneamente pela nuvem e pelo leite. A noite se anima nessa luz leitosa. Uma vida imaginaria se forma nesse leite aéreo. O leite da lua vem banhar a terra, o leite da via láctea permanece no céu. [...] Nessas vibrações imaginarias, o sonhador se deixa embalar. Parece que ele reencontra a confiança de uma infância distante. A noite é um seio intumescido. [...]
BACHELARD, 2001. pp.202-203

 “A noite é um seio intumescido” e é desse seio e do mundo de sonhos que Remedios Varo nos oferece em Papilla Estelar uma imagem poética, fantástica, e ao mesmo tempo de uma familiaridade desconcertante que não há como não se identificar com ela.
A energia vital da natureza e do cosmo, a luminosidade que propaga e expande o olhar. Varo trata da alquimia do cosmos, das coisas voláteis que existem no que parece invariável. Do que parece fixo no Universo.

A força da figura feminina apesar de alimentada pelo conhecimento ,ainda parece permanecer aprisionada. As mulheres mesmo ocupando um lugar importante dentro da produção de trabalho, participante ativa do processo de construção da sociedade moderna, e inclusive com seu pensamento e trabalho intelectual, ainda esta atracada a convenções machistas.
Remédios Varo que presenciou e participou de boa parte desse processo de emancipação feminina, e dos questionamentos sobre essa questão, pode falar e citar em sua obra com muita propriedade sobre a problemática social que a mulher enfrenta,sobre suas fragilidades sua importância e sua força.




REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
BARCHELARD, Gaston. O Ar e os sonhos. Martins Fontes. São Paulo 2001