Thursday, November 18, 2010

Mito de Europa

Cenário:

Um campo de flores em frente ao mar.
Provavelmente fim de primavera já com o calor do verão permitindo brincadeiras na areia da praia.

Personagens:

Pela extensão da praia um grupo de moças amigas se divertem com a filha de Agenor,(Sidon em algumas referencias) rei de Tiro.Era especialmente bela.
Inconsciente de sua beleza virginal , sensualidade e frescor mostrava –se leve,descuidada, pura ,ingênua,feliz,curiosa.
Olhando acima de tudo isso: Júpiter (Zeus), o todo poderoso entre os deuses do Olimpo.

Trama:

Casado com sua obstinada irmã e extremamente ciumenta: Juno( Hera) .Sabendo do temperamento impulsivo da mulher , Zeus procurava não provocar a ira da esposa.
Conquistador por natureza Zeus furtivamente observava a bela jovem a correr e cantar pelos campos em frente ao mar e foi tomado por uma paixão incontrolável e decidiu que iria tomá-la para si.
Zeus tinha o habito de utilizar a metamorfose para aparecer a suas possíveis conquistas.Até mesmo porque para proteção, é perigoso um humano  olhar um deus em todo explendor, de frente .
Aproveitando o campo no qual havia um pasto verde e um rebanho, Zeus desceu em forma de Touro e se “camuflou” entre os outros bovinos.

Giordano-Luca

Acontece que evidentemente deus transformado em touro, não poderia parecer um touro qualquer. Mesmo tentando disfarçar, era um belíssimo animal ali entre os outros.
Forte, musculoso, cornos suaves, pelagem macia, o belo espécime entre os outros acabou por chamar atenção da moça.
Suas amigas ficaram receosas em se aproximar, mas a menina não temeu e acariciou a cara do animal que tinha um olhar irresistivel ,(olhar de quem estava perdido de amor) portando,ele a olhava com olhar de fogo,fogo da paixão. Rubens

Inocente ela se encantou com a doçura e afeto do animal. Não resistiu e passou a tocá-lo com carinho . Ele se aproveitava da caricia e roçava seu corpo ao da moça, e a lambia, e a cheirava,fuçando entre suas roupas . Albani Francesco

Ela em sua pureza não imaginava que ali havia um homem louco de paixão.
A moça seduzida pela graciosidade e tomada de confiança pela docilidade do Touro teceu uma grinalda de flores e a colocou em sua cabeça .Confiante se atreveu a subir no animal.
Boucher


Avistando ao longe suas amigas gostaram da ideia da montaria inusitada e correram para também dar uma “voltinha”.
Ao perceber a reação e relutância da moça para nao sair e dar lugar a suas amigas, o Touro rapidamente se precipita rumo ao mar.Corre e enfrenta as ondas que quebram na praia e com ajuda de Poseidon, ultrapassa arrebentaçaõ das ondas e se distancia da praia cada vez mais
. Bolcher
As moças,desesperadas e surpresas , ao longe se agitam pedindo ajuda.
A jovem assustada não sabe o que fazer e se agarra ao touro para não cair.Morrendo de medo pede ajuda aos deuses do mar.
Zeus, sem parar de nadar, se revela a moça e diz quem é e porque esta em forma de touro.Se declara.
A moça se tranqüiliza e se deixa levar no balanço do mar sobre o dorso do animal.Obra de Rembrandt.

Desfecho:

Assim que chegaram à praia, ela, encantada com todo o acontecido e seduzida por Zeus não se retrai e se entrega ao Touro. Eles tiveram filhos (ai é outra estoria) .
O pai e irmãos da moça passam a procurá-la por uma grande região. Sem localizá-la passaram chamar a região esquadrinhada pelo nome da moça:Europa.
O rapto de Europa é mais uma das muitas lendas de raptos que há na mitologia Grega e Romana. Todas carregadas de muita sensualidade e erotismo.
Obra de Fernando Botero


Claro que os mestres da pintura se inspiraram nessa lenda para fazer seus trabalhos.
Alias, o Mito de Europa foi bastante utilizado por artistas de todos os setores e teve prestígio entre eles desde segunda década do Sec XVIII. Foi inspiração para representações artísticas diversificadas: ópera, teatro, balé, etc.
Esta tendência entendeu-se até final da década de 1770 quando Antonio Salieri, (eterno rival de Mozart) compôs uma ópera em Milão.

Obra de Veronese

Simbologia iconografica

O Touro: Zeus transformado em Touro pode simbolizar o caráter vital e a essência da forma e da matéria. É a representação do visível, do concreto, da revelação e expressão corporal no mais alto grau . O majestoso Touro pode simbolizar a perfeição, bondade, impulsividade ,superioridade,virilidade, potencia, força física e erótica. No mito, o Touro corre para não perder sua conquista, corre para expressar toda sua sensualidade, corre para concretizar o seu desejo e seu prazer.

A Virgem/span>: Jovem , moça.Pode representar a beleza imaculada ,pureza.Perfeição . A sensualidade em estado bruto .

Querubins:
No mundo celestial existe uma hierarquia, uma divisão de tarefas celestiais entre esses seres e os querubins que nas pinturas são representados por bebes gordinhos,sorridentes eram usados como elemento pictográfico para simbolizar a alegria e vitalidade sendo espalhadas .
Mar: Muita água junta em algumas culturas podem simbolizar multidão,em outras,simbolizam coragem ou força dos sentimentos que podem ser serenas ou avassaladoras.
Flor:
a Flor na iconografia pode se referir a moderação , amor,esperança,paixão ,fragilidade, feminilidade

Há varias leituras do mito de Europa feito por artistas de Escolas de Arte através dos séculos ,artistas famosos,artesãos, artistas anônimos.
Em boa parte das leituras do Mito de Europa há elementos iconografcos semelhantes.
Alexandru Radvan



Alexandru Radvan




















Jelena Stojkovc













Valentin Serov





Ludmila









Kagaya












Mosaico Romano




















Pablo Picasso

























Afresco:Pompeia



Martin de Vos













Noel Nicolas Coypel










Gustave Moreau



















Sunday, November 07, 2010

Le Doute De Cézanne- Maurice Merleau -Ponty



A Dúvida de Cézanne-
Resenha Crítica By Nana Lopes (Eliana Mª L.S.De Andrade-@Nanamada )
In O Olho e o espírito


Trata-se de um ensaio sobre o pensamento estético do filósofo Merleau Ponty sobre o trabalho de Cézanne e não obstante, no transcorrer do ensaio, o filósofo discorre principalmente da relação entre percepção e expressão, temas fundamentais de suas teorias.

Certamente o tema, pintura, é muito apreciado por Merleau-Ponty; apesar de que trata das artes como modos de expressão legítimas em que não há como organizar uma hierarquia de importância entre elas. Cada uma tem sua importância correlata.
Merleau Ponty consagra, sustenta e amplia seu pensamento estético em uma primorosa reflexão sobre a vida e obra de Cézanne no qual usa de mola propulsora para seus questionamentos sobre a possibilidade de uma obra retratar uma vida, sobre as angustias estéticas de um artista,no caso Cézanne.
Merleau Ponty trata em seu ensaio sobre a constante busca de Cézanne, suas dívidas, buscas de novas formas de expressões estéticas, a avidez do encontro com a natureza com as sensações, as possibilidades de emoções, a consciência e a sensação da estranheza.
Merleau Ponty desvela seu pensamento sobre seus questionamentos filosóficos e trata de teorias metafísicas do ser que é, rude, selvagem, sensível por natureza.
O Filósofo considera que não basta examinar e compreender somente a razão, o sentido da obra de Cézanne e seu desenvolvimento sem somar toda a sua trajetória, suas influencias estéticas de contemporâneos, dos grandes mestres da historia da arte.
Merleau Ponty em seu ensaio opina e levanta hipóteses que sustentam uma análise ampla, não somente estética e sim, um apanhado analítico geral que conduz a compreensão da razão estética de Cézanne deixando o lado óbvio de um estudo sobre a sua vida e a compreender e abranger a intenção mais profunda, denso, extenso, de toda a sua obra e não somente só a análise estética.

Além de falar sobre o caráter inseguro de Cézanne, Merleau-Ponty ainda detém-se nas freqüentes ataques de crises de instabilidade do pintor durante toda sua vida, para, então, afirmar que no fundo ele possuía caráter ansioso.

Estudio e jardim de Cèzanne


De temperamento instável e desconfiado Cézanne Teve crises coléricas e depressivas desde a adolescência. Seus amigos sabiam disso e se preocupavam com ele por toda a sua vida. Cézanne os afastava de si. Isolava-se.
Cézanne não gostava de debates nem de discorrer sobre teoria da pintura, fugia das discussões. Colocava-se só em sua pintura. Tinha medo da convivência. Seu trabalho era solitário, não tinha discípulos e acabou por ter aversão a contato com outras pessoas.
Seu mundo era a sua obra e essa insegurança e duvidas faziam com que ele se entregasse cada vez mais a um trabalho obstinado.
Merleau Ponty revê todo o trajeto de vida de Cézanne evidenciando todo o processo de mudanças estéticas conseqüentemente técnicas e pensamentos intelectuais descrevendo-as e fazendo conexões entre o processo criativo, sua vida e obra.
Considerando que o gestual do pintor converte-se em pintura ao se utilizar das técnicas ele faz uso de uma ferramenta para chegar a um fim. E Cézanne ao penetrar no mundo natural, paisagens, frutas, pessoas e flores em seu trabalho ele nega a partilha, a divisão e constrói um todo.

“[...] Ao pintar, ao transformar a paisagem, o objeto, as figuras humanas em quadro, Cézanne imobiliza as sensações, detém-lhes o movimento. Porém, esse movimento é retomado pelo seu próprio olhar, dirigido inúmeras vezes ao Monte Santa Vitória, aos banhistas, às naturezas-morta. O movimento também é retomado pelo olhar do outro. [...] (p.135, 136).


Ou seja, provocar o empirismo, a sensação do olhar do observador além de somente expressar uma idéia e sim levar o fruidor a despertar para novas perspectivas de olhar.
Merleau Ponty discreve sobre o fato da pintura de Cézanne ter rompido com a familiaridade do cotidiano. das formas e cores pois a arte em sua maior parte da historia foi percebida como um mimetismo do real na qual poderia servir somente como deleite, devoção, para fins didáticos no caso da religião,demonstração de gosto e distração.

A trajetória estética de Cézanne inicia-se de forma emotiva com grandes pinceladas ainda com certa influencia romântica, pois teve em sua base técnica aulas com toda rigidez clássico.
Mesmo nessa primeira fase Cézanne já tinha a intenção de provocar sentimentos que tivessem origem em sentimentos. Mas quando entra em contato com o impressionismo ele abandona de vez essas pinceladas e passa a fazer estudos minuciosos da natureza.

Portanto, se as características que permeiam os trabalhos impressionistas ofereciam pinturas com resultados mais leves e vibrantes, por outro lado, não possuíam a solidez dos contornos , cores densas, faculdades prezadas pelos mestres clássicos.





Tendiam a tornar-se confusas perdendo, de certa forma, a clareza e a ordem.
È nesse processo criativo de Cézanne que Merleau Ponty se fixa e começa a fazer conjecturas sobre a alternativa temática a partir de onde construíra uma nova interpretação sobre a origem da linguagem dissolvendo assim o paradoxo fenomenológico entre evidencias primarias e as significações organizadas.


Dentro desse cenário, Merleau-Ponty inquieta-se e procura identificar raízes do pensamento dicotômico, do tipo que firma divisões entre sujeito e objeto, construindo uma análise da obra de Cézanne segundo um panorama existencial.
Esta perspectiva considerará vida e obra como acontecimentos que se encaixam, um representando o outro, misturando-se de tal modo que não é mais possível dizer onde começa e termina o outro, ou mesmo que vida e obra sejam acontecimentos autônomos ou separados.
Merleau Ponty em A dúvida de Cézanne teoriza e sustenta sua analise sobre as pinturas de Cézanne onde inclui dados biográficos, influencias técnicas, suas idéias, analises psicológicas, dados biográficos valorizando todos os pontos segundo de forma ampla em relação a sua obra.
Para Merleau-Ponty, o que Cézanne perseguia quando falava em uma pintura direta da natureza, era exatamente pintar o compreendido. Daí então, toda sua insegurança, dúvidas, sua irritação e atenção à natureza, seu isolamento, sua busca por interromper os valores habituais, os relacionamentos, seu medo de deixar-se cair na convivência, de ser influenciado em seu trabalho e em sua forma de olhar o mundo.
Cézanne pretendia pintar a natureza como na sua origem, antes de sofrer as influências humanas, antes de poluir-se de valores, sentimentos.

Portanto, Merleau-Ponty pode reforçar e, de certa maneira, comprovar sua teoria
Sobre a percepção usando a vida e a obra de Cézanne a obra à vida do artista no qual evidencia uma troca imensurável e permanente entre ambos, e, para tanto, apresenta em seu estudo pressupostos da expressão e as relações entre criação e liberdade.
Merleau Ponty sugere que personalidade, o trabalho, as escolhas, os fracassos, sucessos, os estudos, o estilo, as técnicas se unem de forma não há como separar a vida da obra do artista.


Estatua de Cèzanne em Provence

Por vezes Merleau-Ponty preocupa-se em considerar a vida e as escolhas de
Cézanne e afirmar que a pintura era seu mundo e seu modo de existir, paradoxalmente, ele adianta que não podemos compreender a obra de Cézanne como uma simples manifestação de seu caráter doentio.
Merleau Ponty busca compreender o que havia entre a sua teoria da percepção e a obra de Cézanne. Para a experiência da visão é preciso a profundidade, que segundo Merleau Ponty, e a - dimensão do oculto por excelência.
O pensamento filosófico de Merleau Ponty dissolve o paradoxo fenomenológico acerca das evidencias primordiais e as significações constituídas.
Assim como Cézanne queria desvelar o mundo visível, o escritor quer desvelar o mundo da linguagem, o músico o dos sons. pois isso, Merleau-Ponty frisa que Cézanne nega-se a fazer um corte entre sensação e intelecto, entre a natureza e sua ótica dela. O que Cézanne busca é a natureza em seu estado de nascença, o que nos daria uma percepção primordial.






REFERENCIA BIBLIOGRAFICA

MERLEAU-PONTY, Maurice. A dúvida de Cézanne In O olho e o espírito. São Paulo: Abril Cultural. 1975.