"La guardiana Del huevo Negro" (1955), óleo sobre
tela de Leonor Fini
Por Eliana M.L.S.Andrade
Tive a oportunidade de há pouco tempo atras me deparar com
essa obra exposta numa parede da cúpula branca (chamo assim o interior do museu
que tem o formato de meia esfera do Complexo Cultural da Republica em
Brasilia)A estrutura da obra é formal e figurativa. A temática utiliza-se de
metaforas por trata-se de uma obra com caracteristicas surrealistas e portanto,
embebida de simbolismos oníricos e ou fantasticos.
A obra é tomada por uma massa única centralizada de
composição harmoniosa, simétrica e estabelece uma forma triangular que gera
estabilidade, ela está em repouso .
A figura feminina com aspecto majestoso vestida com um traje
de cor amarelo quase dourado revelando parte do busto em seu decote, é coberta
por um manto azulado que aparentemente recobre o local onde ela está sentada.
Não se pode definir se trata-se de um trono ou cadeira
comum, mas pelo seu porte, pode-se presumir uma importancia relevante dessa
figura.
Repousando sobre seu colo encontra-se um ovo negro cuja
parte mais pontiaguda está virado para baixo. Apesar de nada segura-lo pois as
mãos da figura feminina não o toca, o ovo parece estar momentaneamente seguro.
Essa figura tem como plano de fundo ou cenário algo
semelhante a um deserto ou terra árida em cores quentes que variam entre
vermelhos e amarelos no qual pode-se notar extensas e profundas fendas que
parecem partir de sua figura.
Esse manto que a figura feminina usa reflete a imagem de uma
santa, de uma mãe, de ser protetora, guardiã de alguma coisa; seu manto também
é rígido. O que pode ser observado em seu colo repousar um ovo, os seus braços
estão estáticos não seguram mas transmite uma proteção em relação ao ovo.
O semblante da figura demonstra resignação e passividade em
face a toda narrativa. Seu olhar mostra está além do momento vivido, quem sabe
olha para o futuro.
Há o isolamento. .Ela parece aguardar na grandeza do
silencio,do desconhecido e da solidão que lhe é imposta nessa tarefa. Ela
guarda o que parece imprevisivel.
O ovo negro causa grande estranhamento. Há o mistério. Há um
segredo. Esse estranhamento propoem uma experiencia visual multifacetada pois
vai de encontro a referências imagéticas trazidas pelo observador e abre novas
possibilidades de visão pois esta calçado na discrepancia entre o mundo real e
o fantastico, o diferente. O título da obra diz que ela é a guardiã desse ovo
que ajuda a entender melhor a relação invisivel da mulher e o ovo negro em seu
colo que noentanto este parece estar sujeito a queda a qualquer momento pois o
traje aparentemente é acetinado e suas mãos não o tocam. A posição do ovo
invertida para baixo remete a posição e o formato do útero materno.A
representação da mulher e o ovo supõe gerar vida que gera uma contradição ao
lugar onde está o deserto; lugar esse que não existe vida.
O manto azul, pode fazer referencia iconografica ocidental à
cor do manto de Maria, mãe do filho de Deus. Mãe espiritual de boa parte dos
cristão que acentua a leitura sobre maternidade da obra. O azul remete a
sabedoria, ao espiritual,a eternidade e o manto em formato de
trianguloapontando para o céu reforça a sensação do que transcende.
A vida contornada do árido. Ela , a protetora desse novo ser
em um mundo ríspido e mesquinho .Majestosa tarefa. As fendas na terra oferecem
uma ideia de insegurança, separação , de atravessar para outro plano.
A obra propoem uma leitura direta a maternidade, a
magnificência do ser maternal,da resposabilidade de guarda do fruto que se
carrega no ventre, do mistério da maternidade,da solidão que a hora do parto e
da maternidade em si envolve a mulher. Da regninação da mulher diante do
improvável.Do futuro.Do momento em que este escorregara de seu ventre, sairá da
proteção de suas mãos,mas que manterá uma ligação invisivel além daquele
momento.
Pintora surrealista, nascida na Argentina, filha de mãe
italiana. A passagem por este país foi rápida, porque, apenas com um ano de
idade a mãe, depois de se divorciar, levou-a para Trieste (Itália). Leonor (ou
Eleonora) Fini freqüentou os meios boêmios da Europa. Foi uma autodidata. Ficou
famoso o guarda-roupa que desenhou para a bailarina Margot Fonteyn, no seu
papel de Ágata (a Gata) com coreografia de Rolant Petit, apresentado em Paris,
sem esquecer que foi também Leonor quem desenhou o guarda-roupa para os filmes
Romeu e Julieta (1954) e Satyricon (1969) do grande realizador italiano F.
Fellini. Leonor Fini tem uma obra extensa e diversificada. Ilustrou
primorosamente livros para crianças. Entre os mais notáveis figuram desenhos
para obras de Baudelaire, Jean Genet, Sade e Edgar A. Poe. As máscaras que
concebeu para a Comédie Française, para a Ópera de Paris, bem como para o Scala
de Milão mostram outro lado criativo desta excepcional artista. Leonor deu-se
com pintores como Picasso, Dali, De Chirico, Dali, Max Ernst com quem teve uma
relação amorosa. As suas obras estão em quase todos os museus do mundo e desde
o ano da sua morte, 1996, que se têm realizado retrospectivas dos seus
trabalhos, como as de 1997 e 1998 em Nova Iorque e Boston.
Fontes de pesquisa
· Autora: Maria Luisa V. Paiva Boléo. Biografia de Leonor
Fini.http://www.leme.pt/biografias/80mulheres/fini.html . Acessado em 15/06/09
· Whitney
Chadwick is Professor of Art History at San Francisco State University and
lectures both nationally and internationally on women artists and Surrealism in
general. Whitney Chadwick é professora de História da Arte na San
Francisco State University e palestras a nível nacional e internacional sobre
as mulheres artistas e Surrealismo em geral. Ela é a autora de numerosos
livros, incluindo: Mulheres Artistas e O Surrealismo; Mulheres, Arte e
Sociedade; eEspelho Imagens: Mulheres, Surrealismo e auto-representação.
http://www.weinstein.com/fini/leonor-fini.html.
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