Tuesday, June 12, 2007

PAISAGENS URBANAS-NELSON BRISSAC PEIXOTO



Cidade Desmedida
Nelson Brissac Peixoto

"A metrópole, armada por uma nova trama de circuitos de transporte e comunicação, rasga-se em todas as direções. Um estilhaçamento que a converte num amálgama de áreas desconectadas. Espaçamento e desmaterialização são mecanismos da expansão urbana. Ao avançar, a metrópole deixa um vácuo atrás de si.

Hiatos na narrativa urbana, interrupções no seu contínuo histórico, estes espaços intermediários não são simplesmente passivos, zonas mortas. Eles provocam rearticulações no desenho da cidade, pela conexão de elementos afastados. A metrópole se constrói entre suas áreas de assentamento, entre suas zonas de ocupação, no meio.

Hoje toda experiência urbana implica ruptura, distância. Tentativa de articulação de um espaço fragmentado, através das intransponíveis descontinuidades entre suas partes. Intervalos que se produzem no interior da própria cidade. Brás (em São Paulo) e Mitte (em Berlim) são exemplos destas interrupções, vazios surgidos no meio da superfície descontínua dessas metrópoles.

Ao escolher Brás e Mitte, o projeto está propondo situações concretas que comportam esses elementos de ruptura e sirvam de ponto de partida para reflexões e práticas de intervenção. Interferências que reflitam a ruptura da escala humana, própria da cidade tradicional, provocada pela escala da nova situação. A supressão de um padrão de medida introduz uma estrutura descontínua e relações sem hierarquia.

Uma situação que coloca a questão da grande escala. Os recentes projetos urbano-arquitetônicos gigantescos, desenvolvidos em várias partes do mundo, contrariam, por sua própria enormidade, as concepções tradicionais de interior e exterior, localização e espaço urbano. Escapam à percepção formal. Dimensões que implicam em incomensurabilidade. O impacto da escala dissolve toda veleidade de continuidade espacial. Formas dispostas sem proporção, sem medida comum. Como a torre de Babel, a megalópole nos defronta com aquilo que não tem limites, com o imensamente grande.

Entre Brás e Mitte constitui-se um campo desmesuradamente ampliado. Para além de qualquer escala urbano-arquitetônica. Nenhum aparato visual pode articular esses pontos. Não há qualquer seqüência possível, nenhuma continuidade do tecido urbano. Um espaço que nenhum gesto pode cerzir, que nenhum dispositivo técnico pode integrar.

Como intervir nessa escala, nesta extensão sem contornos nem fim? Estas situações urbanas concretas servem para propor um campo que abole sua efetiva localização. A preservação ou fixação de pontos significativos de referência são excluídos.

Em vez disso, impõe-se um outro tipo de intervenção: superposição, em escalas diferentes, de diversos planos, de modo a misturar todas as referências fixas, anulando as marcas tradicionais da cidade. Predileção por figuras de limite, entre o material e o virtual, a arquitetura e a pintura, o urbanismo e o cinema. Interferências simultâneas nas duas áreas implicam a justaposição delas, uma colagem que opera por contiguidade. Uma nova cartografia surge deste desdobramento, um novo espaço formado por essas inusitadas rearticulações.


IMAGEM DO FILME METRÓPOLE

Referências:

· J. Derrida, Point de folie - Maintenant, l’ architecture, in Psyché, Galilée, Paris, 1987.
· P. Eisenman, Entre linhas / Museu de Berlim, Revista AU, 36, São Paulo, jun-jul 91.
· R. Koolhaas, S,M,L,XL, 010 Publishers, Rotterdam, 1995

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