Tuesday, May 08, 2007
A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER
Diferentemente do que se possa pensar, a leveza não prescinde do peso. Paradoxalmente, esta contém em si os germes necessários para a produção de seu estado contrário. Isso é muito bem observado por Calvino (1990, p. 19), quando se refere ao romance de Milan Kundera, A insustentável leveza do ser. Ele diz que há nesse romance a constatação amarga da incontingência do peso da vida. Nas palavras de Calvino, esse “romance nos mostra como, na vida, tudo aquilo que escolhemos pela leveza acaba bem cedo se revelando um peso insustentável
MILAN KUNDERA
Tomando um caminho menos comprometido com o pessimismo (ou mesmo realismo) revelado por Kundera, no poema “Nuvens” (p.17), Roseana prefere, platonicamente, sugerir a seus leitores uma maneira para sustentar a leveza, como se percebe nos trechos que se segUE“[...] há que esquecer / todo o peso / terrestre / e transformar / em luz, / palavras em estrelas”. A poetisa revela aí, por meio de uma sutil seleção e combinação de palavras, os cuidados necessários para cultivar a leveza. Mas nem por isso a autora furta-se de demonstrar, implicitamente, sua consciência quanto ao jogo dialético e necessário que se estabelece entre o peso e a leveza. Isso pode ser observado na leitura dos trechos: “Caminhar em nuvens / é o mais lento / e duro aprendizado”.1
CRÉDITOS
Turchi.Referências Bibliográficas
BACHELARD, Gaston. A poética do devaneio. Trad. São Paulo: Martins Fontes, 1988.
___________. O ar e os sonhos: ensaio sobre a imaginação do movimento. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Trad. Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo, brasilense, 1994.
CALVINO, Ítalo. Seis propostas para o próximo milênio: lições americanas. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
COELHO, Nelly Novaes. Dicionário Crítico da Literatura Infantil e Juvenil Brasileira. São Paulo: EDUSP, 1995.
MURRAY, Roseana. Manual da delicadeza de A a Z. São Paulo: FTD, 2001.
TURCHI, Maria Zaira. O estatuto da arte na literatura infantil e juvenil. In: TURCHI, Maria Zaira; SILVA, Vera Maria Tietzmann (orgs.). Literatura infanto-juvenil: leituras críticas. Goiânia: UFG, 2002, p. 23-31.
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment
Pinceladas do observador