Sunday, November 07, 2010

Le Doute De Cézanne- Maurice Merleau -Ponty



A Dúvida de Cézanne-
Resenha Crítica By Nana Lopes (Eliana Mª L.S.De Andrade-@Nanamada )
In O Olho e o espírito


Trata-se de um ensaio sobre o pensamento estético do filósofo Merleau Ponty sobre o trabalho de Cézanne e não obstante, no transcorrer do ensaio, o filósofo discorre principalmente da relação entre percepção e expressão, temas fundamentais de suas teorias.

Certamente o tema, pintura, é muito apreciado por Merleau-Ponty; apesar de que trata das artes como modos de expressão legítimas em que não há como organizar uma hierarquia de importância entre elas. Cada uma tem sua importância correlata.
Merleau Ponty consagra, sustenta e amplia seu pensamento estético em uma primorosa reflexão sobre a vida e obra de Cézanne no qual usa de mola propulsora para seus questionamentos sobre a possibilidade de uma obra retratar uma vida, sobre as angustias estéticas de um artista,no caso Cézanne.
Merleau Ponty trata em seu ensaio sobre a constante busca de Cézanne, suas dívidas, buscas de novas formas de expressões estéticas, a avidez do encontro com a natureza com as sensações, as possibilidades de emoções, a consciência e a sensação da estranheza.
Merleau Ponty desvela seu pensamento sobre seus questionamentos filosóficos e trata de teorias metafísicas do ser que é, rude, selvagem, sensível por natureza.
O Filósofo considera que não basta examinar e compreender somente a razão, o sentido da obra de Cézanne e seu desenvolvimento sem somar toda a sua trajetória, suas influencias estéticas de contemporâneos, dos grandes mestres da historia da arte.
Merleau Ponty em seu ensaio opina e levanta hipóteses que sustentam uma análise ampla, não somente estética e sim, um apanhado analítico geral que conduz a compreensão da razão estética de Cézanne deixando o lado óbvio de um estudo sobre a sua vida e a compreender e abranger a intenção mais profunda, denso, extenso, de toda a sua obra e não somente só a análise estética.

Além de falar sobre o caráter inseguro de Cézanne, Merleau-Ponty ainda detém-se nas freqüentes ataques de crises de instabilidade do pintor durante toda sua vida, para, então, afirmar que no fundo ele possuía caráter ansioso.

Estudio e jardim de Cèzanne


De temperamento instável e desconfiado Cézanne Teve crises coléricas e depressivas desde a adolescência. Seus amigos sabiam disso e se preocupavam com ele por toda a sua vida. Cézanne os afastava de si. Isolava-se.
Cézanne não gostava de debates nem de discorrer sobre teoria da pintura, fugia das discussões. Colocava-se só em sua pintura. Tinha medo da convivência. Seu trabalho era solitário, não tinha discípulos e acabou por ter aversão a contato com outras pessoas.
Seu mundo era a sua obra e essa insegurança e duvidas faziam com que ele se entregasse cada vez mais a um trabalho obstinado.
Merleau Ponty revê todo o trajeto de vida de Cézanne evidenciando todo o processo de mudanças estéticas conseqüentemente técnicas e pensamentos intelectuais descrevendo-as e fazendo conexões entre o processo criativo, sua vida e obra.
Considerando que o gestual do pintor converte-se em pintura ao se utilizar das técnicas ele faz uso de uma ferramenta para chegar a um fim. E Cézanne ao penetrar no mundo natural, paisagens, frutas, pessoas e flores em seu trabalho ele nega a partilha, a divisão e constrói um todo.

“[...] Ao pintar, ao transformar a paisagem, o objeto, as figuras humanas em quadro, Cézanne imobiliza as sensações, detém-lhes o movimento. Porém, esse movimento é retomado pelo seu próprio olhar, dirigido inúmeras vezes ao Monte Santa Vitória, aos banhistas, às naturezas-morta. O movimento também é retomado pelo olhar do outro. [...] (p.135, 136).


Ou seja, provocar o empirismo, a sensação do olhar do observador além de somente expressar uma idéia e sim levar o fruidor a despertar para novas perspectivas de olhar.
Merleau Ponty discreve sobre o fato da pintura de Cézanne ter rompido com a familiaridade do cotidiano. das formas e cores pois a arte em sua maior parte da historia foi percebida como um mimetismo do real na qual poderia servir somente como deleite, devoção, para fins didáticos no caso da religião,demonstração de gosto e distração.

A trajetória estética de Cézanne inicia-se de forma emotiva com grandes pinceladas ainda com certa influencia romântica, pois teve em sua base técnica aulas com toda rigidez clássico.
Mesmo nessa primeira fase Cézanne já tinha a intenção de provocar sentimentos que tivessem origem em sentimentos. Mas quando entra em contato com o impressionismo ele abandona de vez essas pinceladas e passa a fazer estudos minuciosos da natureza.

Portanto, se as características que permeiam os trabalhos impressionistas ofereciam pinturas com resultados mais leves e vibrantes, por outro lado, não possuíam a solidez dos contornos , cores densas, faculdades prezadas pelos mestres clássicos.





Tendiam a tornar-se confusas perdendo, de certa forma, a clareza e a ordem.
È nesse processo criativo de Cézanne que Merleau Ponty se fixa e começa a fazer conjecturas sobre a alternativa temática a partir de onde construíra uma nova interpretação sobre a origem da linguagem dissolvendo assim o paradoxo fenomenológico entre evidencias primarias e as significações organizadas.


Dentro desse cenário, Merleau-Ponty inquieta-se e procura identificar raízes do pensamento dicotômico, do tipo que firma divisões entre sujeito e objeto, construindo uma análise da obra de Cézanne segundo um panorama existencial.
Esta perspectiva considerará vida e obra como acontecimentos que se encaixam, um representando o outro, misturando-se de tal modo que não é mais possível dizer onde começa e termina o outro, ou mesmo que vida e obra sejam acontecimentos autônomos ou separados.
Merleau Ponty em A dúvida de Cézanne teoriza e sustenta sua analise sobre as pinturas de Cézanne onde inclui dados biográficos, influencias técnicas, suas idéias, analises psicológicas, dados biográficos valorizando todos os pontos segundo de forma ampla em relação a sua obra.
Para Merleau-Ponty, o que Cézanne perseguia quando falava em uma pintura direta da natureza, era exatamente pintar o compreendido. Daí então, toda sua insegurança, dúvidas, sua irritação e atenção à natureza, seu isolamento, sua busca por interromper os valores habituais, os relacionamentos, seu medo de deixar-se cair na convivência, de ser influenciado em seu trabalho e em sua forma de olhar o mundo.
Cézanne pretendia pintar a natureza como na sua origem, antes de sofrer as influências humanas, antes de poluir-se de valores, sentimentos.

Portanto, Merleau-Ponty pode reforçar e, de certa maneira, comprovar sua teoria
Sobre a percepção usando a vida e a obra de Cézanne a obra à vida do artista no qual evidencia uma troca imensurável e permanente entre ambos, e, para tanto, apresenta em seu estudo pressupostos da expressão e as relações entre criação e liberdade.
Merleau Ponty sugere que personalidade, o trabalho, as escolhas, os fracassos, sucessos, os estudos, o estilo, as técnicas se unem de forma não há como separar a vida da obra do artista.


Estatua de Cèzanne em Provence

Por vezes Merleau-Ponty preocupa-se em considerar a vida e as escolhas de
Cézanne e afirmar que a pintura era seu mundo e seu modo de existir, paradoxalmente, ele adianta que não podemos compreender a obra de Cézanne como uma simples manifestação de seu caráter doentio.
Merleau Ponty busca compreender o que havia entre a sua teoria da percepção e a obra de Cézanne. Para a experiência da visão é preciso a profundidade, que segundo Merleau Ponty, e a - dimensão do oculto por excelência.
O pensamento filosófico de Merleau Ponty dissolve o paradoxo fenomenológico acerca das evidencias primordiais e as significações constituídas.
Assim como Cézanne queria desvelar o mundo visível, o escritor quer desvelar o mundo da linguagem, o músico o dos sons. pois isso, Merleau-Ponty frisa que Cézanne nega-se a fazer um corte entre sensação e intelecto, entre a natureza e sua ótica dela. O que Cézanne busca é a natureza em seu estado de nascença, o que nos daria uma percepção primordial.






REFERENCIA BIBLIOGRAFICA

MERLEAU-PONTY, Maurice. A dúvida de Cézanne In O olho e o espírito. São Paulo: Abril Cultural. 1975.





1 comment:

  1. Muito bom. Vou passar por BSB semana q vem. Pq ñ um contato?

    contatarblogger@gmail.com

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