
QUERUBIN
Roseana Murray
Hoje um anjo pousou
em meus olhos:
eu caminhava,
e de repente,
tudo ficou
tão leve e alado,
havia em todos,
nas ruas e nas casas,
um desejo de querer bem,
de repartir o pão,
de inventar jardins
e gestos delicados.
Todos amavam todos
numa ciranda infinita,
que dava a volta no mundo
fazendo um anel de luz.

Percebe-se, nesse poema, que a autora, assim como propõe Calvino, esforça-se por retirar peso, tornando leves e agradáveis alguns elementos importantes da poesia: a figura humana, a cidade e a linguagem. A figura humana fica destituída de peso, pois é remetida ao sentimento de querer bem ao outro; vira um anjo, fica leve, tocada por esse sentimento. O mesmo ocorre com a cidade: “[...] nas ruas e nas casas, / um desejo [...] / de inventar jardins [...]”. Criar jardins, plantar flores, embelezar com eles as ruas e as casas faz com que a cidade fique mais leve, mais bonita, mais pronta para ser habitada por nós. Nesse caso, Roseana seleciona cuidadosamente as palavras que melhor representam a leveza, como é o caso das palavras ciranda infinita e depois anel de luz, que vão ao encontro de alguns dos maiores anseios da humanidade: liberdade, igualdade e união entre os povos. E esse cuidado se exerce com rigor em todos os poemas do livro, pois neles, concretamente, as palavras dão a idéia de que a vida, exercida com delicadeza, fica mais leve e mais agradável de ser vivida.
fonte:http://www.proec.ufg.br/revista_ufg/infancia/D_poesia.html
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