“O que vemos só vale- só vive- em nossos olhos pelo que nos olha”.
Georges Didi-Huberman
Um bom exemplo do humor inserido nas pinturas de Brueguel esta na Obra “Provérbios Flamengos” pintado por volta de 1559. Cada imagem obra produzida por Bruegel, é mergulho a outras obras dentro da obra, na qual se busca de detectar nos riquíssimos elementos distintivos da pintura todos os detalhes, todos os símbolos ali inseridos. Assim acontece com os “Provérbios Flamengos”. Cujos ditos populares ali inseridos e retratados, chegaram com poucas modificações e ainda freqüentemente utilizado nos ditos populares do cotidiano do homem pós-moderno..
“ Provérbios Flamengos” pintado por volta de 1559
Em um dos fragmentos da obra há duas pessoas com as nádegas exposta para fora de uma janela defecando juntos pelo mesmo orifício anal. Os provérbios pode ser esse:
Detalhe de” Provérbios Flamengos” de Peter Burguel.
"Eles defecam pelo mesmo ânus" dito popular cheio de ousadia e escárnio, e em livre interpretação pode quem sabe se referir as pessoas que pensam da mesma forma, ligadas intimamente por algum motivo ou ideal, inseparáveis, aliadas, em uma adaptação mais próxima ao nosso tempo seria: “Eles são como carne e unha”.
Há sorrisos eternizados sem que um movimento de lábios tenha sido usado. São os olhares sorridentes, tão perturbadores quanto os risos labiais. Didi-Huberman, descreve sobre um “jogo entre passado e presente, as imagens são atravessadas por uma memória, “memória que jamais saberá por inteiro o que acumula”. DIDI-HUBERMAN (1998, p.115).
Bartolomé Esteban Perez Murillo – Sevilha (1618 a 1682) pintor barroco espanhol.
Percebe-se nesses olhares sorridentes da menina e sua ama, que em vão tenta esconder seu sorriso e é denunciada pelos olhos, Essa obra foi pintada por Esteban Murillo, do Barroco espanhol, é esse jogo descrito por Didi-Huberman, algo que provoca uma sensação de reciprocidade de olhares. È como se a obra sorrisse de e para o observador, como se soubesse de algum segredo do observador que busca descobrir o segredo ou memória que a obra reserva em seu silencio bidimensional. Como se a obra fizesse parte de um jogo de dissimular uma lembrança e ao mesmo tempo o de desvendar a lembrança do espectador.
“O ato de ver não é o ato de uma máquina de perceber o real enquanto composto de evidências tautológicas. O ato de dar a ver não é o ato de dar evidências visíveis a pares de olhos que se apoderam unilateralmente do “dom visual” para se satisfazer unilateralmente com ele. Dar a ver é sempre inquietar o ver, em seu ato, em seu sujeito. Ver é sempre uma operação de sujeito,portanto uma operação fendida, inquieta, agitada, aberta. Todo olho traz consigo sua névoa, alem das informações de que poderia num certo momento julgar-se o detentor.” DIDI-HUBERMAN (1998, p.77)
Francisco José de Goya pintor Espanhol nascido em 1746 foi processado pela corte por ter julgado suas sensuais “Majas” pintadas entre 1800 e 1803 como obras que ofendiam as normas de moral de sua época. Maja era uma expressão usada para mulheres que levavam a vida de forma mais liberal e que pertenciam à classe social menos abastada e com pouca instrução. A moça que serviu de modelo é desconhecida, mas há quem a julgue com característica de uma cigana. Goya ao pintar as duas obras parece ter vestido a Maja nua com perfeição técnica e anatômica ao passo que desnudou a Maja vestida com gestual solto, dando aspectos esvoaçantes nos trajes da modelo.
A luz do pensamento de DIDI-HUBERMAN, ponderando sobre a memória que há nas imagens e na reciprocidade de olhares que há entre a obra e o expectador, pode se observar o jogo de olhares sorridentes que as” Majas “fazem com que as olha. Elas parecem sorrir de algo que foge a compreensão de quem as observa por isso por vezes perturba, por vezes atrai. Por um momento pode quem sabe narrar de forma critica ou denunciadora sobre a vida em que estavam inseridas, da ironia dos que as procuravam mas as excluíam da vida social.
Pode estar rindo da sua própria condição de mulher ou quem sabe do expectador que tenta adivinhar o que esta escondendo olhar que sorri.
Jean Honore Fragonard-A Moça brincando com o cão.
Honore Fragonard (1732-1806) França- Contemporâneo de Goya é muito conhecido por pintar a alegria, cenários repletos de romantismo de uma vida fútil e volúvel que a sociedade vivia e ele presenciou. A frivolidade seria a nota alta desse período denominado Rococó estilo ligado principalmente à ordem estética na arquitetura e mobiliário. Para as artes plásticas não é considerado um período estético dos melhores porque a revolução em 1879 arruinou financeiramente com os Franceses. Fragonard pintou bastante e deixou um acervo significativo de obras. Se comparados os olhares e sorrisos provocativos e direcionados para o observador das Majas de Goya a obra A moça brincando com o cão , de Fragonard que parece estar alheia a quem a observa não deixa de criar uma tensão entre o olhar de quem observa e o olhar em cumplicidade das personagens na obra.
O estado de alegria, satisfação e relaxamento em que esta a menina e seu cão, também convidam o espectador a participar do momento. Há uma espécie de luz que envolve o momento em que foi pintada a cena e o que o observador se depara com a obra. A imagens são como luz que leva ao pensamento instintivo, inconsciente do ser humano nele existente, transversalmente a percepção intelectual de um “sintoma da memória”. o autor compreende que a representação que se forma no espírito de uma construção na qual as imagens se desnudam em suas latências e alicerce.O espaço que manifesta-se da justaposição de imagens do cruzamento entre o visível e o invisivel é o campo onde acontece o conjunto de princípios e processos e influência recíproca entre o que é significante e o significado.
Por Eliana Lopes de Andrade -Arte educadora.