Showing posts with label Sorriso. Show all posts
Showing posts with label Sorriso. Show all posts

Wednesday, November 16, 2011

O Olho que ri

 
                                           “O que vemos só vale- só vive- em nossos olhos pelo que nos olha”.
                                                               Georges Didi-Huberman



Um bom exemplo do humor inserido nas pinturas de Brueguel esta na Obra “Provérbios Flamengos” pintado por volta de 1559. Cada imagem obra produzida por Bruegel, é mergulho a outras obras dentro da obra, na qual se busca de detectar nos riquíssimos elementos distintivos da pintura todos os detalhes, todos os símbolos ali inseridos. Assim acontece com os “Provérbios Flamengos”. Cujos ditos populares ali inseridos e retratados, chegaram com poucas modificações e ainda freqüentemente utilizado nos ditos populares do cotidiano do homem pós-moderno..
                                            “ Provérbios Flamengos” pintado por volta de 1559
Em um dos fragmentos da obra há duas pessoas com as nádegas exposta para fora de uma janela defecando juntos pelo mesmo orifício anal. Os provérbios pode ser esse: 

                                           Detalhe de” Provérbios Flamengos” de Peter Burguel.
"Eles defecam pelo mesmo ânus" dito popular cheio de ousadia e escárnio, e em livre interpretação pode quem sabe se referir as pessoas que pensam da mesma forma, ligadas intimamente por algum motivo ou ideal, inseparáveis, aliadas, em uma adaptação mais próxima ao nosso tempo seria: “Eles são como carne e unha”.

Há sorrisos eternizados sem que um movimento de lábios tenha sido usado. São os olhares sorridentes, tão perturbadores quanto os risos labiais. Didi-Huberman, descreve sobre um “jogo entre passado e presente, as imagens são atravessadas por uma memória, “memória que jamais saberá por inteiro o que acumula”. DIDI-HUBERMAN (1998, p.115).
 
                                                Bartolomé Esteban Perez Murillo – Sevilha (1618 a 1682) pintor barroco espanhol.

Percebe-se nesses olhares sorridentes da menina e sua ama, que em vão tenta esconder seu sorriso e é denunciada pelos olhos, Essa obra foi pintada por Esteban Murillo, do Barroco espanhol, é esse jogo descrito por Didi-Huberman, algo que provoca uma sensação de reciprocidade de olhares. È como se a obra sorrisse de e para o observador, como se soubesse de algum segredo do observador que busca descobrir o segredo ou memória que a obra reserva em seu silencio bidimensional. Como se a obra fizesse parte de um jogo de dissimular uma lembrança e ao mesmo tempo o de desvendar a lembrança do espectador.

“O ato de ver não é o ato de uma máquina de perceber o real enquanto composto de evidências tautológicas. O ato de dar a ver não é o ato de dar evidências visíveis a pares de olhos que se apoderam unilateralmente do “dom visual” para se satisfazer unilateralmente com ele. Dar a ver é sempre inquietar o ver, em seu ato, em seu sujeito. Ver é sempre uma operação de sujeito,portanto uma operação fendida, inquieta, agitada, aberta. Todo olho traz consigo sua névoa, alem das informações de que poderia num certo momento julgar-se o detentor.” DIDI-HUBERMAN (1998, p.77)


Francisco José de Goya pintor Espanhol nascido em 1746 foi processado pela corte por ter julgado suas sensuais “Majas” pintadas entre 1800 e 1803 como obras que ofendiam as normas de moral de sua época. Maja era uma expressão usada para mulheres que levavam a vida de forma mais liberal e que pertenciam à classe social menos abastada e com pouca instrução. A moça que serviu de modelo é desconhecida, mas há quem a julgue com característica de uma cigana. Goya ao pintar as duas obras parece ter vestido a Maja nua com perfeição técnica e anatômica ao passo que desnudou a Maja vestida com gestual solto, dando aspectos esvoaçantes nos trajes da modelo.

A luz do pensamento de DIDI-HUBERMAN, ponderando sobre a memória que há nas imagens e na reciprocidade de olhares que há entre a obra e o expectador, pode se observar o jogo de olhares sorridentes que as” Majas “fazem com que as olha. Elas parecem sorrir de algo que foge a compreensão de quem as observa por isso por vezes perturba, por vezes atrai. Por um momento  pode quem sabe  narrar de forma critica ou denunciadora sobre a vida em que estavam inseridas, da ironia dos que as procuravam mas  as  excluíam da vida social.
Pode estar  rindo da sua própria condição de mulher ou quem sabe do expectador que  tenta adivinhar o que esta escondendo olhar que sorri.
Jean Honore Fragonard-A Moça brincando com o cão.
Honore Fragonard (1732-1806) França- Contemporâneo de Goya é muito conhecido por pintar a alegria, cenários repletos de romantismo de uma vida fútil e volúvel que a sociedade vivia e ele presenciou. A frivolidade seria a nota alta desse período denominado Rococó estilo ligado principalmente à ordem estética na arquitetura e mobiliário. Para as artes plásticas não é considerado um período estético dos melhores porque a revolução em 1879 arruinou financeiramente com os Franceses. Fragonard pintou bastante e deixou um acervo significativo de obras. Se comparados  os olhares e sorrisos  provocativos e direcionados para o observador  das  Majas  de Goya  a obra A moça brincando com o cão , de Fragonard que  parece estar  alheia a quem a observa não deixa de criar uma tensão  entre o olhar  de quem observa e  o olhar  em cumplicidade das personagens  na obra.
O estado de alegria, satisfação e relaxamento em que esta a menina e seu cão, também convidam o espectador a participar do momento. Há uma espécie de luz que envolve o momento em que foi pintada a cena e o que o observador se depara com a obra. A imagens são como luz que leva ao pensamento instintivo, inconsciente do ser humano nele existente, transversalmente a percepção intelectual de um “sintoma da memória”. o autor compreende que a representação que se forma no espírito de uma construção  na qual as imagens  se desnudam em suas  latências e alicerce.O espaço que  manifesta-se da justaposição de imagens do cruzamento entre o visível e o invisivel  é o campo onde acontece o conjunto de princípios e processos e  influência recíproca entre  o que é significante e o significado.
 Por Eliana Lopes de Andrade -Arte educadora.




Friday, May 27, 2011

O Riso Simbólico

Hoje veremos  um pouco de Arte Contemporânea.
Yue Minjun é um  jovem artista que é muito conhecido por seus trabalhos com figuras, pinturas,esculturas de largos sorrisos. Alguns críticos de arte ,e suas  terriveis manias de  tentar colocar todo mundo dentro de compartimentos, definem o seu trabalho como Realismo Cínico ( (  Realismo cínico   )), mas o artista rejeita  esse rótulo.
Vamos ponderar  sobre essas imagens com expressões quase que saturadas de  repetição . O que na verdade há além de auto-retratos risonhos? lembremos que  culturalmente os asiáticos são comedidos em suas manifestações , expressões e movimentos.O que há nessa explosão de risos?
*Mas o que diverge os registros de sorrisos da Antiguidade clássica dos registros de sorrisos contemporâneos? O que motivaria essa mudança de foco ? Bem, de acordo com Minois (historiador francês) o riso do século XX foi extraordinariamente oposto, paradoxal na proporção que se tornou livre .







“[...] um riso de humor, de compaixão e, ao mesmo
Tempo, ‘de desforra’, diante dos reveses acumulados
Pela humanidade ao longo do século e das batalhas
Perdidas contra a idiotia, contra a maldade e contra
O destino”.MINOIS (2003, p.558)


Essa vingança na qual Minois discursa pode ser notada na forma irônica em que o artista contemporâneo tornou-se e posicionou-se por vezes como um dedo apontado para a diversidade de questões que envolvem a Arte, a vida, comportamento, cultura, ética do homem moderno.







O humor tornou-se uma característica facilmente perceptível.
 Uma tendência quase que onipresente nas diversas manifestações que envolvem a criação e de acordo com o pensamento de Mikhail Bakhtin. (1987) por vezes “carnavalesco” seja dentro do campo publicitário, - jornalístico, no mundo das artes visuais o humor esta muito presente. 


Yue Minjun (1962 (1962, Heilongjiang, China) ) China - artista plástico contemporâneo chinês possui um trabalho bastante interessante de representação do riso. 


Seu trabalho não trata tão somente do simples registro de seu próprio sorriso ,visto que boa  parte de seus trabalhos são auto-retratos, seu trabalho vai mais além,  é paradoxal, e demonstra uma insatisfação com a corrupção, repressão e cerceamento da livre expressão.



Esse riso estampado em seus trabalhos são escancarados de forma relativamente proporcional a insastifação que ele teria pelo modo de vida que os chineses são obrigados a se submeterem.
 Os sorrisos de Yue são chamados de “sorrisos simbólicos” esses foram provocados como forma de protesto e escárnio e menosprezo . Podem ser  representações de  seus sentimentos íntimos pelos que ficaram mudos depois do trágico episódio do Massacre na ocasião do protesto do movimento Democrática Praça Tiananmen, em 1989 na Praça Celestial. Segundo o artista, seu trabalho não se trata de uma critica e sim da expressão máxima de seus sentimentos. Especialmente na obra "Execution" pode-se perceber a força desses sentimentos e a sua jornada pela história da arte em busca de referenciais para seu trabalho. Este tem como mote para sua obra Execution uma obra de Edoward Manet que, por conseguinte havia buscado nos fuzileiros de 3 de Maio de Goya.


 Edouard Manet -A execução de Maximiliano- pintado em 1867- -Inspirado em três de Maio



Francisco Goya, "Tres de Mayo"


Yue Minjun - Execution

È impressionante a força do riso registrado nas telas de Yue, o riso aqui deixa de ser registros de gestual das estatuas de sorriso arcaico que homenageavam os deuses, não são, no entanto ameaçadores  ou escarnecedores como os  das festas  da Idade Média.


Não procura um ideal de beleza e equilíbrio como os risos renascentistas, aparentemente não pretende  registrar a alegria do cotidiano das pessoas simples  das pinturas de Hals,ou das esculturas risonhas de Carpeaux, ou o registro  do riso acadêmico e de técnica aprimorada de Bouguereau .Muito menos  busca a luz sobre o  riso que os Impressionistas perseguiam.

    

O riso de Yue não é uma interferência manual sobre um sorriso que até então já era eternizado e tomou novo foco, novo contexto, como caso do bigodinho de Duchamp. Esse sorriso não trata de descrever sobre sorrisos celebres e sua vida decadente. 
Ao mesmo tempo em que os sorrisos de Yue não são nada disso, paradoxalmente é tudo isso junto, insinua carregar consigo todas essas questões humanas como o medo, sobrevivência , religiosidade, estética, ciência, técnica, tecnologia. O riso de Yue é um riso interior,o riso amarelo , o riso “amarelo” [1]





O direito de ser livre. Yue ri  pela impossibilidade individual e solitária  de mudar alguns rumos da história do mundo . 
Quem sabe por isso varias de suas obras repetem as mesmas figuras, s sua figura quem sabe não seja a tentativa de potencializar esse discurso de indignação silencioso e solitário."

A felicidade é uma arma quente [2]


O texto  de hoje são  considerações minhas (Eliana M.L.S.Andrade-@Nanamada )sobre o artista e suas obras em um trecho de meu trabalho de pesquisa cujo o  título é: Pequeno Inventário Sobre a Representação do Riso nas Artes Plásticas-2009
[1] 1 Riso Amarelo-Orlando Neves (in Dicionário de Expressões Correntes, Editorial Notícias, Lisboa) possível hipótese: «Riso amarelo. Este pobre "amarelo" tem triste fama. A história da palavra é a história da própria cor e que, no conjunto, dá o sentido à expressão: "riso fingido, traiçoeiro, por entre dentes, contrafeito, sem graça, falso.Provém o vocábulo do latim hispânico 'amarellau', que significa "pálido".de quem custou a acreditar que pessoas morreram quase no final do século XX na tentativa de obter seus direito respeitados. 

[2]  A felicidade é uam arma quente-é a tradução livre  da frase : Happiness is a warm gun, composta John Lennon, da musica creditada a dupla Lennon-McCartney, e lançada no álbum The Beatles-grupo de Rock Inglês- "Álbum Branco" de 1968.




















Referências Bibliográficas.
ALBERTS, Verena. O riso no pensamento do século XX. In: ALBERTS, Verena. O
Riso e o risível na história do pensamento. Rio de Janeiro: Zahar/FGV, 1999.
BENJAMIN, Walter. A Obra de Arte Na Era de sua Reprodutibilidade Técnica. In: Magia e Técnica, Arte e Política. Ensaios Sobre Literatura e História da Cultura. Obras Escolhidas. Vol. 1. São Paulo, Brasiliense, 1994.
BAKHTIN, Mikhail. Introdução: a apresentação do problema. In: ______. A cultura
popular na Idade Média e no Renascimento: no contexto de Francois Rabelais. São
Paulo: Hucitec. Brasília: Ed. UnB, 1987.
BAUDELAIRE, Charles. "Na Essência do Riso" [1855], no espelho de um, tr. & Ed. Jonathan Mayne (Londres, Phaidon Press Ltd., 1955). Disponível em: E-book http://www.proec.ufg.br/revista_ufg/dezembro2006/textos/essencia_riso.pdf. Acessado em 01/09/2009
                                       Te salon of 1849- Disponível em E-book: http://www.pdf-search-engine.com/harles-baudelaire-the-salon-of-1849-pdf.html. Acessado em 12/09/2009
                                       Critique d’art suivi de critique musicale. Paris: Gallimard, 1976. Tradução livre.
BERGSON, Henri. O Riso: ensaio sobre a significação do cômico. Rio de Janeiro: Zahar Editores,
1983.
                                Laughter: An Essay on the Meaning of the Comic, trans. Cloudesley Brereton and Fred Rothwell (London: Macmillan, 1911). “Risos- O Riso - Ensaio sobre a Significação da Comicidade”, de Henri Bergson, Martins Fontes - Um ensaio sobre o significado da comicidade-Instituto no Collège de France. Tradução autorizada por Cloudesley BRERETON L. ES L. (Paris), MA (Cantab) E FRED ROTHWELL BA (LONDRES). Disponível em E-book http://www.gutenberg.org/ebooks/4352. Acesssado em 28/09/2009
DIDI- HUBERMAN, Georges. O que vemos, o que nos olha. Prefácio de Stéphane Huchet; tradução de Paulo Neves. – São Paulo: Ed. 34, 1998.
                                                    La Pintura Encarnada, Universidad Politécnica de Valencia, 2007. pg.47.
DATO Arthur. O Filósofo como Andy, Originalmente publicado em DANTO, Arthur. Philosophizing Art. Selected Essays. Berkeley: University of California Press, 2001, p. 61-83. Tradução: Nara Beatriz Milioli Tutida.-Disponivel em: http://www.cap.eca.usp.br/ars4/danto.pdf. Acesssado em 08 de novembro de 2009.
FABRI, Fratelli. Cabeça Rampin - Pub. in Arte nos Séculos, ed. Victor Civita, Fratelli Fabri Editori, Milão e São Paulo, 1969, p. 128.
GONTAR, Cybele. Jean-Baptiste Carpeaux-Department of European Sculpture and Decorative Arts, The Metropolitan Museum of Art.
 Disponível em: http://www.metmuseum.org/toah/hd/carp/hd_carp.htm. Acessado em 03/11/2009
MINOIS, Georges. História do Riso e do Escárnio, Editora da UNESP. 2003
LOPES, Eliana. Andy Wahol - Fama e infâmia-Abril de 2008-
Disponível em: http://nanamada.blogspot.com/2008/04/andy-warhol.html. Acessado em 10/11/2009
SUASSUNA, Ariano. Iniciação à Estética. 5ª Edição, Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2002.
TRUMBLE, Angus. A Brief History of the Smile - Basic Books, 2004
ARTE GREEKS. Disponível em :http://www.mlahanas.de/Greeks/Arts/Kore.htm
SOLSO, Robert- Cognition and the Visual Arts. September 1996. Disponível em: http://www.mlahanas.de/Greeks/Arts/Kore.htm. Acessado em 11/09/2009.
TRUMBLE, Agnus. Disponível em: http://ycba.yale.edu/information/pdfs/news/ycba_angus-trumble.pdf. Acesado em 17/09/2009
FOLHA DE SÃO PAULO- “France Soir”-Editorial de 05.02.2006